(porque há ocasiões em que é bom ter um pateta alegre por perto)
Na
6ª feira, o Vasco não teve escola. Eu tinha de trabalhar e o meu amor tinha
aulas na faculdade. Embora, na Bélgica, ninguém leve os filhos para o trabalho,
já estava a preparar-me para levar a coisa pequena comigo. Não seria a primeira
vez. A sessão de exames em Saint-Joseph começa na próxima semana, pelo que ele
poderia perfeitamente ficar sentado numa mesa a estudar. Com um bocadinho de
sorte, seria um dia calmo na biblioteca. Mas, entretanto, o meu amor disse que
os pais se tinham oferecido para ficar com o Vasco. Parece que a
criatura se porta excepcionalmente bem quando lá está… apesar de eu ficar
sempre cheia de medo que ele parta uma das muitas antiguidades expostas pela
casa.
Tinha
acabado de chegar ao trabalho, quando o meu amor liga a dizer que o tio tinha
morrido subitamente. Ofereci-me de imediato para ir buscar o Vasco. A última
coisa que alguém quer, numa situação dessas, é ter de tomar conta de uma
criança. “Uma criança como o Vasco…”, frisei. Mas o Belga tinha outra opinião. Que
não, que estava enganada. Que o Vasco era exactamente a pessoa certa, no
momento certo. Que não podia imaginar melhor maneira de aligeirar o ambiente.
De alegrar as pessoas que o rodeavam.
O
dia em casa dos meus sogros foi pesado. Havia um corpo para reconhecer. Disposições que tinham impreterivelmente de ser tomadas. Familiares que
deviam ser notificados. Mas houve tempo para estudar. E fazer crepes. E ver
filmes. E brincar. E ler velhas BD. O meu amor diz que foi um dia alegre,
apesar dos pesares. Acabaram por lá ficar a dormir. De manhã, o meu amor
acordou com as gargalhadas que vinham da cozinha. Quando desceu, deparou-se com
um espectáculo inédito. Filho pequeno, com um daqueles seus pijamas-babygrow vestido, animava as hostes.
Numa casa onde as crianças nunca foram autorizadas a ir para a mesa naqueles preparos.
Coisa
pequena voltou toda animada. Acho que nem se deu bem conta da tristeza que o rodeou. Trazia bolachas e chocolates, como sempre. Trazia um punhal
antigo, vindo sabe-se lá de onde. Da última vez, tinha sido um pequeno
sarcófago da Índia. Parece que, desta vez, conseguiu não fazer estragos. Os
meus sogros agradeceram muito a presença “reconfortante”. O meu amor também. E
uma pessoa fica a pensar que aquilo que torna o Vasco único (não no
bom sentido, como diria o Diogo), pode fazer milagres num contexto totalmente diferente.
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