(onde se mostra que é possível entrar-se cansado e sair-se refeito,
como diria o
Sérgio Godinho)
Já
tinha dado aulas no ensino recorrente nocturno. Também já tinha dado aulas de
iniciação a uma língua estrangeira. Portanto, sabia o que me esperava quando
iniciei este ano lectivo as aulas de Espanhol I, com um grupo de 18 adultos.
Enfim, 17 adultos e meio. Um ainda tem borbulhas na cara e vem com a mãe.
Sempre
me senti grata pelas horas roubadas ao descanso e à família que consagravam a
ouvir-me sem qualquer obrigação. Por isso, esforçava-me para que as aulas
fossem eficazes, mas divertidas. Se tínhamos de dar gramática, compensava com
um trecho de um filme ou uma canção no final. Se havia muitos exercícios
aborrecidos a fazer, intercalava com notícias e curiosidades sobre o mundo
hispânico que ia buscar à Net todas as semanas. Se o texto a analisar era de
difícil compreensão, fazia concursos de rapidez a consultar o dicionário. Tive
o cuidado de ir adaptando os conteúdos aos seus interesses pessoais e
profissionais, de modo a que a aprendizagem da língua fosse também útil.
Houve
poucas desistências ao longo do ano e eram todos assíduos. E trabalhadores
incansáveis, bolas! Era raro sairmos mais cedo, porque achavam que havia sempre
tempo para fazermos mais um exercício. Os progressos impressionantes que
fizeram espelhavam este trabalho. O feedback
que recebi ao longo do ano foi bastante positivo. E a boa disposição reinante
era prova disso mesmo. Aliás, ainda as aulas não tinham acabado, já me andavam
a perguntar se ia dar Espanhol II para o ano.
Mas
acho que nada me tinha preparado para o que vivi ontem à noite. Depois de 8
penosas horas de trabalho, 2 intermináveis horas de caminho e um iogurte comido
à pressa, fui a correr dar a minha última aula de Espanhol. Dia de exame oral e
de avaliações finais. Tinha pedido para fazerem apresentações simples de 10
minutos, individuais ou em grupos de dois. O tema era completamente livre.
Podiam utilizar os suportes que quisessem. No fim, teriam de responder a
algumas perguntas.
Sentei-me
no fundo da sala, com a minha grelha de avaliação e uma caneta. Era suposto ser
apenas trabalho. Foi puro prazer. Passei 3 horas deliciada a ouvi-los dissertar
sobre diferentes temas. Com tanto à-vontade! Receitas de pratos complicados que
tinham finalmente conseguido fazer. Canções que ouviam há anos e que já eram
capazes de traduzir. Relatos de viagens por Espanha onde tinham posto em
prática o que tinham aprendido. Projectos ambiciosos de voluntariado na América
do Sul que sonhavam fazer. Imitações perfeitas das minhas aulas, que me fizeram
rir à gargalhada. E, por fim, uma encenação de uma conversa telefónica com um
novo cliente espanhol. No meio de tudo isto, houve música, bolinhos... e licores.
Esta foi, sem dúvida, a parte mais difícil porque eu não bebo álcool, mas não fui
capaz de recusar. Ainda bem que agora já posso vir a pé para casa!
No
final, deram-me uma prenda. Uma maçã. Simplesmente, uma maçã. Símbolo da
sapiência e do respeito pelo professor, explicaram-me. Eu fiquei comovida, mas
felizmente pude meter as culpas nos copos…
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