quarta-feira, 18 de junho de 2014

Mis alumnos

(onde se mostra que é possível entrar-se cansado e sair-se refeito,

como diria o Sérgio Godinho)


Já tinha dado aulas no ensino recorrente nocturno. Também já tinha dado aulas de iniciação a uma língua estrangeira. Portanto, sabia o que me esperava quando iniciei este ano lectivo as aulas de Espanhol I, com um grupo de 18 adultos. Enfim, 17 adultos e meio. Um ainda tem borbulhas na cara e vem com a mãe.

Sempre me senti grata pelas horas roubadas ao descanso e à família que consagravam a ouvir-me sem qualquer obrigação. Por isso, esforçava-me para que as aulas fossem eficazes, mas divertidas. Se tínhamos de dar gramática, compensava com um trecho de um filme ou uma canção no final. Se havia muitos exercícios aborrecidos a fazer, intercalava com notícias e curiosidades sobre o mundo hispânico que ia buscar à Net todas as semanas. Se o texto a analisar era de difícil compreensão, fazia concursos de rapidez a consultar o dicionário. Tive o cuidado de ir adaptando os conteúdos aos seus interesses pessoais e profissionais, de modo a que a aprendizagem da língua fosse também útil.

Houve poucas desistências ao longo do ano e eram todos assíduos. E trabalhadores incansáveis, bolas! Era raro sairmos mais cedo, porque achavam que havia sempre tempo para fazermos mais um exercício. Os progressos impressionantes que fizeram espelhavam este trabalho. O feedback que recebi ao longo do ano foi bastante positivo. E a boa disposição reinante era prova disso mesmo. Aliás, ainda as aulas não tinham acabado, já me andavam a perguntar se ia dar Espanhol II para o ano.

Mas acho que nada me tinha preparado para o que vivi ontem à noite. Depois de 8 penosas horas de trabalho, 2 intermináveis horas de caminho e um iogurte comido à pressa, fui a correr dar a minha última aula de Espanhol. Dia de exame oral e de avaliações finais. Tinha pedido para fazerem apresentações simples de 10 minutos, individuais ou em grupos de dois. O tema era completamente livre. Podiam utilizar os suportes que quisessem. No fim, teriam de responder a algumas perguntas.

Sentei-me no fundo da sala, com a minha grelha de avaliação e uma caneta. Era suposto ser apenas trabalho. Foi puro prazer. Passei 3 horas deliciada a ouvi-los dissertar sobre diferentes temas. Com tanto à-vontade! Receitas de pratos complicados que tinham finalmente conseguido fazer. Canções que ouviam há anos e que já eram capazes de traduzir. Relatos de viagens por Espanha onde tinham posto em prática o que tinham aprendido. Projectos ambiciosos de voluntariado na América do Sul que sonhavam fazer. Imitações perfeitas das minhas aulas, que me fizeram rir à gargalhada. E, por fim, uma encenação de uma conversa telefónica com um novo cliente espanhol. No meio de tudo isto, houve música, bolinhos... e licores. Esta foi, sem dúvida, a parte mais difícil porque eu não bebo álcool, mas não fui capaz de recusar. Ainda bem que agora já posso vir a pé para casa!

No final, deram-me uma prenda. Uma maçã. Simplesmente, uma maçã. Símbolo da sapiência e do respeito pelo professor, explicaram-me. Eu fiquei comovida, mas felizmente pude meter as culpas nos copos…

Sem comentários:

Enviar um comentário