quinta-feira, 26 de junho de 2014

Todos os malandros têm sorte

(onde se apresenta uma jovem personagem casmurra)


Sabe-se lá porquê o meu chefe, um miúdo de 26 anos teimoso como uma mula, embirrou que eu tinha de tirar férias no Verão. Que o Carnaval já ia longe, que eu estava cansada, que tinha dois filhos, que toda a gente ia de férias menos eu… blá, blá, blá. Vai daí, saiu-se com uma ideia peregrina: já que ainda não tinha direito a gozar férias, muito menos a subsídios de férias, ele deixava-me tirar duas semanas sem receber. Uma generosidade que tive de recusar educadamente. Várias vezes. Com uma paciência infinita lá lhe expliquei que, embora agradecesse a simpatia, não me podia dar ao luxo de tirar 15 dias de férias não pagas. Ou seja, para todos os efeitos práticos, de faltar metade do mês ao trabalho. Foi difícil convencê-lo de que estou longe de ser uma workaholic, mas que não podia chegar ao final do mês de Julho com metade do meu salário na conta. Não é por mal, mas é uma coisa que não me dá mesmo jeitinho nenhum.

Mas o meu chefe não desistiu. Ligou à contabilidade. Disse que eu tinha direito a tirar dois dias pagos, segundo uma lei qualquer que me ultrapassa. Eu sei que tenho, mas também sei que a Administração decidiu há muitos anos que toda a gente metia esses dias na semana do Natal para podermos fechar a instituição. Certo, mas daqui até ao Natal fazia umas horas extras e compensava, argumentou todo contente. Aceitei, agradecida. Juntamente com as minhas folgas semanais, já dava para tirar uma semana de férias. Com um dia de trabalho não pago, vá. Se é para a loucura, sejamos loucos. 

O meu chefe ainda não estava satisfeito. Uma semana não são 15 dias, reclamou ele, com uma lógica matemática imbatível. Lembrou-se de ver se eu não teria horas suplementares por descontar.  Horas suplementares? Nááá… não me cheira. Sou uma pessoa ciosa do seu descanso. Mas ele nem me ouviu e foi ligar novamente à contabilidade. Obrigou a pobre rapariga, que está sozinha a processar os pagamentos do final do mês, a ir buscar os meus cartões de ponto desde Fevereiro para contar todos os minutos que fiz a mais. Ontem, estava de folga e recebi no meu email pessoal uma folha complicadíssima de Excel repleta de cores e de colunas. Uma coisa demasiado hermética para a minha capacidade de compreensão. Mas o meu chefe casmurro esta manhã fez questão de anunciar vitorioso que tenho 21 horas extra acumuladas. Que tenho direito (parece-me que é mais obrigação, mas pronto) de trocar por uma semaninha de férias forçadas. A modos que é assim: aproximam-se 15 dias de férias! Nem ousei dizer-lhe que tenho uma tradução para entregar na próxima semana, não fosse ele voltar à carga...  

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