quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Liberdade à força

(onde se mostra que às vezes a falta de paciência também compensa)

 

Fiz tudo o que a literatura especializada aconselhava. Tentei seguir os magníficos tutoriais do YouTube. O raio dos pássaros nem vinham comer na minha mão, nem queriam aprender a voar. Bem podia deixar a gaiola aberta o dia todo, que nenhum se arriscava a sair dali pelo seu próprio pé. Vá, pela sua própria asa.

E, depois, perdi a paciência. Percebi que isto só ia lá com medidas drásticas. Decidi impor-lhes a liberdade que nunca tinham conhecido. Arranquei-os dos poleiros à força, com muitas bicadas à mistura. Passei horas com eles em pânico, enfiados no meu cachecol. Ensinei-os a voar à custa de muitas esborrachadelas contra a janela.

Ainda não vêm para a minha mão, mas já ficam quietos quando lhes pego para os tirar da gaiola. Ainda não saem sozinhos, mas já gostam de ficar nos meus ombros ou em cima da minha cabeça a namorar. Ainda não tentam voar por eles, mas quando dou um ligeiro impulso com a mão, já conseguem atravessar o quarto do Vasco. De vez em quando, ainda se esborracham contra a janela. Já caíram no aquário das tartarugas. Mas, agora, quando lhes estendo a mão para os salvar, já trepam para os meus dedos a piar baixinho. As bicadas tornaram-se meigas. O branco, o mais arisco, tenta dar-me beijinhos nas orelhas. Faz-me cócegas. O meu riso já não os assusta. Piam quando falo com eles.

Os homens da casa andam ciumentos, porque ainda não conseguiram ganhar a confiança dos pássaros. O D. Fuas cheira-me toda, meio desconfiado, e ignora-me, quando passo muito tempo com eles. Eu ando deliciada.
 

 

4 comentários:

  1. O meu pai tinha um pardal que se pendurava na haste dos óculos. Acho sempre que alguém que consegue cativar um animal dessa forma é uma espécie de super-herói.

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  2. Quando era miúda, parecia que me estavam sempre a cair pardalitos aos pés! Volta e meia, lá encontrava um pardal moribundo, que trazia para casa. Ainda consegui salvar alguns, mas nunca domesticá-los. Também acho que isso é trabalho de super-héroi, Gralha.

    (Hum... agora que penso, não devia estar a falar contigo. Fiquei amuada com o encerramento do meu e-boteco preferido. :( )

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