domingo, 1 de fevereiro de 2015

Do amor espantado

(quando dois anos representam toda uma nova vida)

 

Quando nos conhecemos, ele estava prestes a iniciar a viagem da sua vida. Só por isso o deixei entrar na minha. Porque pensei que era por pouco tempo. Mas, por mim, acabou por ficar.

Quando nos conhecemos, ele não gostava de crianças. Só por isso lhe apresentei os meus filhos sem medo. Mas, por mim, aprendeu a conhecê-los. Apaixonou-se também por eles, que trata como se fossem seus. Porque são seus no coração. Porque são “os rapazes”, únicos no mundo. No nosso mundo.

Quando nos conhecemos, ele era um solitário. Vivia sem tripulação, sem carga, sem amarras, ao sabor das marés. Mas, por nós, lançou âncora pela primeira vez. Não deve ser fácil, nós não somos fáceis. A nossa vida não é fácil. E, no entanto, ele aqui está. É o homem do leme, com os pés bem assentes em terra firme.

Faz hoje dois anos que lhe abri a porta da minha casa, da minha família, do meu coração. Abri-a devagarinho, com cuidado. E ele entrou. Com a discrição que lhe é característica. E fechou-a docemente, mas com firmeza. Sarou feridas. Reconstruiu. Transformou a nossa vida. Somos hoje, todos nós, pessoas infinitamente melhores. Graças a este amor imenso que não cessa de me espantar.

2 comentários:

  1. Parabéns por essa viagem a 4! Não imagina como fico feliz quando leio os seus belos textos: não é nada por "cusquice", gosto mesmo do que/como escreve! E mesmo que nunca venha a conhecer quem a lê deste lado, continuo a deixar aqui a minha admiração por quem vai à luta contra ventos e as neves das Ardenas, não contando com o que é oponente longe desse bocado do mundo...Um grande mês de Fevereiro para si!

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