sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Daquilo que não se explica

(porque estava a dever um agradecimento sentido)


 

Em quase quarenta anos de existência, houve apenas três situações distintas em que tive mesmo vontade de conhecer alguém. Nem sequer posso dizer que tenha sido vontade, foi mais uma certeza. Uma necessidade. Um sentimento de reconhecimento. Uma espécie de clarividência que me trespassou no instante em que as vi pela primeira vez. Senti um desejo súbito de me aproximar, de entrar no universo daquelas pessoas, de desenvolver uma amizade com cada uma delas. E, em todas essas situações, fui à luta. O peito aberto às balas. Cativei, conquistei. Nunca me arrependi.

Todas estas pessoas fazem ainda hoje parte da minha vida. Sinto um orgulho imenso em dizer que são minhas amigas, que se mantêm firmemente ao meu lado. O meu primeiro amor de adolescência, que continua a mandar-me mensagens estranhas dos quatros cantos do mundo. A minha madrinha de faculdade, madrinha dos meus filhos, amiga que se tornou família. O meu amor, que desistiu da maior aventura da sua vida para ficar connosco. Estas três pessoas cresceram, mudaram ao longo dos anos. Mas, na sua essência, mantiveram-se as mesmas, numa constância rara. Continuam a fascinar-me pela inteligência, pela profundidade de pensamento, pela beleza interior, pela integridade. Pelo tanto que temos a dizer, numa conversa inesgotável sem princípio nem fim. Por me conseguirem ler a alma sem que seja preciso falar. O que me fez apaixonar-me por cada uma delas, in lato sensu, mantém imutável. Tal como a minha amizade. E o sentimento de gratidão por fazer parte das suas vidas.

A Ana trouxe-me os meus rapazes no final do mês passado. E eu gostei muito da temporada que passou connosco, aqui, na Bélgica. É tão bom receber amigos do coração em nossa casa! Soube a pouco, fiquei com a sensação de que estas duas semanas não tinham sido suficientes para pôr toda a conversa em dia. Mas sei que temos uma vida inteira pela frente para o fazer. Ela dir-me-ia certamente que temos toda uma vida e mais além. Eu acredito que sim. Porque há amizades que vão para além do tempo e do espaço.
 
 

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