(onde
se percebe que eles andam aí)
Desta
vez, decidi levar as sessões de cinesiterapia (ou
fisioterapia, não sei bem a diferença… se é que há alguma) muito a sério. Estou
decidida a fazer o tratamento todo até ao fim, por mais que me custe. Só impus uma
condição à minha médica: não me abandonar novamente nas mãos torcionárias do Dr.Sauvage. Ela riu-se muito e assentiu. Parece que aquilo não resulta com toda a
gente. Não sei porquê, mas não me admira…
Lá fui eu, então, a uma cinesiterapeuta (ou fisioterapeuta, não
sei bem a diferença… se é que há alguma) aqui do burgo. Uma jovem calma, com o
ar mais fofinho do mundo. Muito terra-a-terra. Medianamente bonita. De trato
afável. Aquele tipo de pessoa com a qual se simpatiza logo à partida.
Felizmente… porque depois de nos pôr as mãozinhas delicadas em cima, o único
sentimento que me vem à cabeça é ódio. Ódio puro. Mas, no dia seguinte, quando
lá entramos, voltamos a sentir a mesma paz e tranquilidade no ar. A mesma simpatia
delicada. Até ela pôr mãos ao trabalho. Literalmente. É uma coisa um bocadinho esquizofrénica,
não consigo explicar melhor. Uma estranha ambivalência de sentimentos.
Estou seriamente desconfiada de que estes “profissionais” se
enquadram na categoria dos sádicos. Dos sádicos encapotados, entenda-se. Gente completamente
pervertida que arranjou uma maneira legal – até mesmo lucrativa, imagine-se – de
dar vazão às suas pulsões mais secretas e sórdidas. Por trás de um sorriso
adorável esconde-se uma personagem bastante sombria. Onde nós vimos uma sala de
trabalho, eles vêm uma sala de prazer. Onde nós vimos aparelhos de ginástica e
uma marquesa, eles vêm aparelhos de tortura. É uma perfeita cena de terror,
onde nós somos vítimas conscientes, consensuais.
Pior do que isso. Estes “profissionais” seguem uma seita secreta,
nascida nos idos anos 80, nos EUA. Os seus mentores são aqueles actores foleiros
dos filmes de porrada. Não os brutamontes desprovidos de cérebro, sem qualquer
interesse. Mas os minorcas caídos em desgraça que praticavam artes marciais ao pôr-do-sol.
Os gurus solitários em construção. Que conseguem derrubar o adversário mais
imponente apenas com um toque do dedo mindinho. Que conseguem provocar as dores
mais intensas com uma enorme economia de movimentos. A sua força advém do
conhecimento das fraquezas do outro.
Para elucidar melhor esta minha descrição da personagem em
questão, talvez valha a pena transcrever o monólogo desta manhã:
Bruta: É aqui, não é?
Eu: Hum, hum…Bruta: É precisamente aqui que lhe dói mais, não é?
Eu: Hum, hum…
Bruta: Vá, coragem! Isto custa um bocadinho, eu sei.
Eu: Hummm…
Bruta: Pode gritar, sabe?
Eu: Hum?!
Bruta: Tenho aqui homens que gritam que se fartam. Um deles tem quase dois metros!
Eu: Hum?!
Bruta: Eu sei que isto provoca umas dores incríveis. Há pessoas que preferem verbalizá-las.
Eu: Hummm…
Bruta: Estou a ver que não é o seu caso. As mulheres são sempre mais fortes. Eles acham que não, mas nós é que somos o sexo forte.
Eu: Hum, hum…
Bruta: Pronto… coragem! Isto está a correr tão bem, vou só fazer mais um bocadinho, sim? Já que consegue aguentar…
Eu: Hum?!
Bruta: Aiiii… estou aí a ver uma lagrimita a correr! Está a portar-se mesmo bem!
Eu: Hummm…
Bruta: Pronto, já passou! Agora vou um bocadinho aqui para este lado, para a deixar respirar.
Eu: Hum!
Bruta: Aiiii… não me diga que também lhe dói aqui?! Está bem arranjada, está! Olhe, vamos lá… só mais um pouco de coragem!
Eu: Hummm…
E é isto durante 25 minutos. Atentai no que vos digo: eles andam
aí. Disfarçados de profissionais com licença e tudo. Disfarçados de bons
samaritanos. No fundo, bem lá no fundinho, não passam de sádicos encapotados,
legalizados, remunerados. A quem nós ainda agradecemos pelo mal infligido.
Antes isso do que pegarem numa metralhadora e desatarem a matar crianças na escola. Espero que valha a pena o sacrifício, coragem!
ResponderEliminarLOL... visto por esse prisma, prefiro que a mulher dê cabo de mim! ;)
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