sexta-feira, 29 de abril de 2016

Notas soltas


(porque a última semana foi rica em coisas várias)



 

As melhores primas do mundo fizeram-nos uma visita-relâmpago. Nevava. Pouco deu para fazer, excepto estarmos uns com os outros. O essencial, portanto. Só faltava uma para a pandilha ficar completa (e fez falta). A caminho do aeroporto, lembraram-se que não tinham tirado fotografias. “Estive demasiado ocupada a viver para fotografar”, comentou a Sara (a prima que está mais perto da geração do Diogo do que da nossa). Fiquei a pensar naquilo. Percebi que também tenho feito isso, nos últimos tempos.

A reunião no safari de Aywaille, na segunda-feira passada, ficou marcada pela tristeza. Já lá tinha estado, no nosso primeiro ano na Bélgica. E não me lembro de ter sentido esta melancolia. Achei os espaços demasiado pequenos. Os animais pareciam deprimidos. Talvez fosse do frio. Não é bonito ver girafas debaixo da neve. Nem elefantes. Os orangotangos nem sequer saíram dos abrigos aquecidos. Se eu pudesse, teria feito a mesma coisa. Uma colega desculpava-se com as hormonas destrambelhadas pela amamentação. Mas nós – os outros três – não tínhamos qualquer desculpa. Excepto a triste realidade que nos rodeava. Sempre adorei jardins zoológicos e reservas de animais, pelo extraordinário trabalho de conservação e reprodução de espécies. Mas com boas condições e respeito pelos animais. Assim, não.

Filho grande voltou a adolescer com a lua. Não sei porque diabo chamam à adolescência a “idade do armário”. Só se for porque uma pessoa tem vontade de os atirar lá para dentro e trancar a porta. Seria melhor chamar-lhe a “idade Disneyland”: é só montanhas-russas, carrocéis, coisas de crianças pequenas e miúdos crescidos. Com muita parvoíce à mistura. É tãoooo cansativo. Ora está numa boa-disposição parva, ora está prestes a cortar os pulsos. Numa questão de segundos. Uma pessoa nunca sabe quem lá vem, quando a criatura desce as escadas. Despacha potes de meio quilo de iogurte e bolos inteiros à velocidade da luz. E está sempre com fome. Felizmente, arranjou trabalho para o Verão num restaurante. Estou seriamente desconfiada de que vai dar prejuízo à casa, mas pronto. Está a crescer feliz, é o que interessa. E continua a lambuzar-me de beijos, mesmo quando ralho com ele.

Filho pequeno continua a crescer pouquinho. Saudável e feliz e bicho-carpinteiro e espertalhão. Mas pequenino. A endocrinologista voltou a rever as suas previsões em baixa, nesta última consulta. E depois, pôs-se a olhar fixamente para mim. “Chegue-se lá aqui!” e aponta para o aparelhómetro para medir os minorcas que por lá passam. “Duvido muito que tenha 1.52 m, sabe?”. Encolhi os ombros. É o que diz o BI há tantos anos, nunca pensei muito nisso. Sempre convivi bem com o meu tamanho. Sou a Migalha desde que me conheço. Mas foi preciso chegar aos 40 para ficar a saber que sou mesmo pequenina: 1.48 m. Desatei a rir. “Não há milagres, certo?” Coisa pequena ficou com um sorriso de esperança... Teve na mesma que ir tirar muitoooo sangue, para mais uma bateria de testes. Os últimos, garantem-me. Caíam-lhe as lágrimas, mas não soltou um som. Eu ia desmaiando. Passamos o resto do dia a passear por Liège, mão na mão. Filho papel-químico. Filho cópia-conforme.

Tem nevado a semana toda. E faz um frio desgraçado. É difícil manter a boa-disposição. Ainda assim, o que me faz mais falta é a luz. Os miúdos seguem a moda reinante: é primavera, arrumam-se os Kispos. Parecem belgas (mas o Belga parece português, sempre a queixar-se do frio). Sinto-me gelar só de olhar para eles, tão pouco agasalhados. A verdade é que nunca passaram invernos como os últimos quatro, sem doenças, nem constipações. Eu mantenho os camisolões, os cachecóis, os gorros e as botas. E as mantas. A única vantagem de viver neste reino gelado é que tive direito a férias forçadas para a semana, porque estamos com um problema no aquecimento central no escritório. E a chefe ainda pediu desculpa pelo incómodo da pausa imposta…

Vou aproveitar o tempo livre para… trabalhar, pois claro! Estou tão feliz por ter voltado ao meu mundo da tradução e legendagem. Embora tenha sido difícil de gerir os tempos-livres, sinto que comecei a entrar numa certa rotina. Numa espécie de equilíbrio instável, possível. Até consegui manter os mesmos hábitos de leitura devoradores, que iniciei nas últimas férias-de-filhos-da-Páscoa. Assim a minha madrasta me mande finalmente o terceiro volume de “A amiga genial”... Também quero fazer mudanças, aqui em casa. Pintar uma parede da sala e alguns móveis pequenos. A Primavera exige uma nova decoração mais leve e luminosa. Tipo, a condizer com os grossos flocos de neve que caiem lá fora!

2 comentários:

  1. Se a endocrinologista visse a mãe e o filho pequeno ao longe iria pensar que são irmãos...e isso é um elogio! Gosto de a ver animada, com planos para mudar a decoração: faz muito bem à cabeça, ainda que alguns trabalhos tragam um stress inesperado! Beijinhos e um bom fim de semana, aqui parece que vamos ter uns dias de sol...

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    1. Aqui tanmbém temos soooolllll... finalmente! A vida atá parece mais bonita! :)

      Uma boa semana, Mariana! Beijinhos.

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