(porque uma história triste pode narrar uma vida feliz)
O
tio-avô do meu amor é pintor, do movimento surrealista belga. Apesar da vetusta
idade, mantém-se muito jovem de cabeça. E continua a pintar. Vive sozinho numa
casa-museu, rodeado de obras de arte. Há pouco morreu-lhe a mulher, companheira
de uma vida. Quando abriu a época do mexilhão, decidiu manter a tradição. Um
gesto bonito, para honrar a memória da esposa. Aperaltou-se e apanhou o comboio
até Ostende, para ir comer os primeiros mexilhões frescos. Após três horas de
viagem, chegou ao destino. Mas não conseguiu sair da estação. Nunca chegou a
ver o mar. Como poderia apreciar os mexilhões sem ela? Deu meia-volta e entrou
novamente no comboio. Regressou a casa, no seu fato de Domingo. Foi o dia em
que as saudades mais pesaram.
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