domingo, 25 de setembro de 2016

E o marinheiro regressou ao mar

(onde se vive uma saudade sem fim)



Em Janeiro, disse que este seria o ano do meu amor. Que em 2015 se tinha dedicado por completo a nós e que, agora, tinha de pensar nele. O meu amor esperou pela rentrée escolar. E pelo início de todas as actividades dos rapazes. Mal o nosso quotidiano acalmou, fez-se ao mar. Voltou aos barcos. Não vale a pena amarrar quem não tem amarras. Tal como eu serei sempre tradutora, ele será sempre marinheiro. Nenhum de nós faz concessões. Nenhum de nós abre mão daquilo que é. Custe o que custar. E a verdade é que custou muito mais do que algum dia imaginei que pudesse custar. Mas o meu amor é marinheiro. Pode não ser exactamente esse o nome. Pode ter muitas patentes. Ou ter um pendor mais científico. O meu amor será sempre marinheiro. E um marinheiro precisa de barcos. E da liberdade do mar.

Prometi que não ia chorar e não chorei. Até ver o Vasco agarrado a ele aos soluços. Até ver o abraço sem fim do Diogo. Nesse momento, chorei. Não por mim, mas por ver a tristeza dos meus filhos. “O que é que nós vamos fazer sem ele, mãe?”, perguntou a coisa pequena quando se deitou. Parecia perdido, amputado. Respondi que íamos fazer o melhor que podíamos. Que íamos viver e esperar. E é isso que temos estado a fazer. A dor da partida deu lugar à saudade. Uma saudade sem fim que os telefonemas, sms e e-mails não matam. Vivo há tanto tempo com a saudade colada ao corpo, que nem tinha percebido que se tornou uma segunda pele. Que já não magoa. Que se esbateu. Agora, está em carne viva. Nunca pensei que houvesse amor assim, que entra em nós e nos usurpa por inteiro. Que faz com que o nosso coração ande no alto-mar. E os nossos olhos fitem o horizonte sem fim. E a nossa mente vagueie ao sabor da maresia. Estou aqui, mas ando perdida algures por lá.

10 comentários:

  1. Hoje não há risos para soltar enquanto leio este post...Não sei quanto tempo voltam a ser 3 na casa que 4 têm vindo a criar, mas percebo que qualquer medida de tempo vai custar a passar! Um outro abraço, Rita, mesmo muito apertadinho: é tão sentido quanto a necessidade que sinto de vir até aqui e "encontra-la!

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    1. Rita, imagino quer não esteja a ser fácil! Um abraço apertadinho, apertadinho!!!

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    2. Obrigada pelas palavras sempre doces, Mariana.

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    3. Não é fácil, mas faz parte... Obrigada pelo abracinho, Célia.

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    1. Mesmo que passe depressa, há-de parecer uma eternidade, Gralha. :( Beijinhos.

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    1. Só por me chamares garota já ganhei o dia! Um beijinho, Carla.

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