segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Albireo na constelação do Cisne

(porque há prendas que são pura poesia)


Flores, perfumes e ursinhos de peluche são prendas que me dizem muito pouco. E celebrar datas convencionais ainda menos. Felizmente, o meu amor também abomina o romantismo forçado.

Foi neste espírito despreocupado que nos preparámos para passar o nosso primeiro dia dos namorados, há quase um ano atrás. Mas o meu filho crescido, antes de rumar a Portugal nas férias de Carnaval, intimou o meu amor a dar-me uma prenda no dia de S. Valentim. Avisou que, quando voltasse, queria vê-la. Portanto, era bom que fosse uma prenda de jeito. Tipo um chocolate em forma de coração. Afinal, era o primeiro namorado da mãe e estava decidido a fazer dele uma pessoa à altura das (suas) expectativas. Ri-me da exigência filial, sem suspeitar que o meu amor a tinha levado a sério.

E foi assim que recebi uma prenda inesperada. À noite, numa praia perto do Mont Saint-Michel, em França. O meu amor apontou para o céu estrelado e mostrou-me onde ficava  Albireo. Uma estrela dupla, amarela e azul, situada na constelação do Cisne. Pois que a partir dessa data, Albireo seria minha. Ninguém tinha reivindicado a sua propriedade e ele oferecia-ma. Tive direito a uma espécie de mapa do tesouro rabiscado num papel para poder orientar-me no céu e vê-la sempre que quisesse. De preferência no Verão, a minha estação do ano preferida, quando é visível a olho nu.

Tive de esperar para ver a minha estrela dupla brilhar no céu. Mal eu sabia que o Verão me traria Albireo e levaria o meu amor para longe. Quando ele partiu, só fiz uma exigência. Que estivesse à minha porta no dia 1 de Fevereiro à noite. Para voltarmos a passear pelos bosques de Malempré. Para nos voltarmos a apaixonar, uma e outra vez. Com o mesmo encantamento.

O meu amor veio, claro. E trazia com ele uma prenda especial. Uma prenda feita por ele, cuidadosamente, durante noites a fio. A prenda mais bonita que já alguma vez vi. Albireo pelas mãos dele. Alibireo aos olhos dele, com um pequeno coração no seu interior. Eu. Albireo na constelação do Cisne. Um cisne negro ou branco, a condizer com o meu lado lunar ou doce.
 
 

 

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