(onde se faz o elogio da cegueira)
Dizem
que a primeira impressão que temos de alguém é a correcta. Dizem que os
primeiros minutos chegam para conhecermos alguém. Mas, às vezes, não damos o
devido valor à nossa voz interior…
Há
muitos, muitos anos atrás, entrei pela primeira vez no Liceu de Queluz. Não
conhecia ninguém. Perguntei-me como seriam os meus novos colegas do 11º ano.
Acabada de chegar de um intercâmbio de estudantes na Bélgica, pensei que
provavelmente eu não teria muito a ver com eles. Mas estava decidida a fazer
amigos, como sempre.
Ao
chegar ao pavilhão onde ia ter aulas, deparei-me com uma cena grotesca. E algo
me disse que aqueles eram os meus novos colegas. Um fanfarrão gozava com o
gordo da turma, perante os risos idiotas dos demais. Depois de o achincalhar e
de lhe bater com os livros na cabeça várias vezes, dirigiu-se ao caixote de
lixo a imitar o seu andar desengonçado e atirou tudo lá para dentro: mochila,
cadernos, livros. Senti um asco imenso por aquele ser, que sentia necessidade
de humilhar um colega para ser alguém. Para repararem nele. Para conquistar a
simpatia dos outros. E senti um enorme carinho pelo gordo, que levava aquilo
tudo na brincadeira.
Hoje,
dia 5 de Fevereiro de 2014, divorciei-me finalmente do fanfarrão.
[Quanto
ao gordo da turma, transformou-se num homem lindo e muito interessante. É um dos meus
melhores amigos e faço questão que esteja presente na minha vida. Para sempre.]
O primeiro parágrafo diz tudo sobre mim!
ResponderEliminarSempre confiei nas minhas primeiras impressões e sempre segui aquela voz interior que me dizia que aquela pessoa não era de confiança... na única vez que optei por ignorar o meu instinto (achando que estava a ser exagerada e preconceituosa) dei-me mesmo muito mal. levei uma lição valente e apanhei uma das maiores decepções da minha vida. Aprendi então que o meu instinto não falha e como tal mais vale segui-lo!
Ui, este post dava para um livro inteiro.
ResponderEliminar(mas quero acreditar que não isso das primeiras impressões nem sempre é garantido, porque as pessoas costumam ter má impressão minha quando me conhecem)
Não se trata do "elogio da cegueira". Trata-se - ou deveria tratar-se - do elogio da "voz interior" (que algumas pessoas têm à primeira vista), "contra a cegueira". No caso, uma cegueira persistente e continuada!
ResponderEliminarE, ao episódio que agora contas (e que eu ignorava) chama-se (à falta de termo adequado em português) "bullying". Não se chamava assim ainda, nesses tempos idos?
Bem... PARABÉNS pelo divórcio!
ResponderEliminar(e, embora dando 2.ªs, 3.ªs, demasiadas oportunidades... tbém "vejo o filme todo" nesses primeiros minutinhos...)
Parabéns! Também eu devia ter dado valor à minha voz interior, também eu caí na conversa da fanfarrona, também eu feliz e finalmente me divorciei.
ResponderEliminarO melhor de tudo é o regresso a nós mesmos, à verdadeira felicidade, à liberdade e esperança.
Receber os parabéns pelo meu divórcio foi algo que nunca me tinha ocorrido! Mas tem a sua piada. :)
ResponderEliminarAcho que a sociedade em geral ainda tende a considerar os divórcios como uma espécie de falhanço. Mas pode simplesmente ser uma metamorfose. Aquele lapso de tempo que uma pessoa leva a passar do estado de crisálida a borboleta. Depois, é só voar...
Parabéns pelo divórcio, dona R.! Não acho falhanço nenhum, o casamento durou o que tinha de durar, deu-te dois filhos lindos. Ponto final, parágrafo. Agora está melhor :)
ResponderEliminarEu também não acho que tenha sido um falhanço, Mel! Falava da forma como as pessoas ainda encaram os divórcios. No meu caso, a haver falhanço, foi o de ter andado cega tantos anos, numa relação que não me fazia feliz há muito tempo.
ResponderEliminarE, sim, concordo contigo... agora estou numa fase da minha vida muito mais feliz e realizada. :)