(no
princípio era o verbo, mas neste caso é mais o caos)
Após
duas semanas no meu novo emprego, acho que já percebi mais ou menos quais são
as minhas funções. Mas demorou, bolas! Parecia que todos os dias aparecia mais
alguma coisa que era suposto fazer.
Felizmente,
vou dividir o trabalho no Centro de Documentação e Comunicação da associação com
uma psicóloga. Ela ficará encarregue da parte mais científica e eu dos aspectos
mais literários. Entre as duas vamos dinamizar a biblioteca e actualizar a base
de dados com novas informações, filtrar toda a informação recolhida a
transmiti-la aos pais e profissionais, editar o jornal trimestral, gerir o site,
o blog e o facebook, representar a associação em colóquios e campanhas de
sensibilização, elaborar cartazes e comunicações. Ufa! Nunca fiz metade destas
coisas na vida e não há ninguém para nos ensinar. Mas sinto-me estranhamente
feliz e motivada. Desconfio que tem muito a ver com o local em si.
A
associação fica situada num velho edifício coberto de hera que a Câmara cedeu ad aeternum. Era a sede de uma das mais
antigas juntas de freguesia do concelho que acabou por ser extinta nos anos 70.
Ainda tem uma prisão na cave que é utilizada como armazém. E, no sótão, há um esconderijo
secreto debaixo do chão. Durante a nossa limpeza geral, encontrámos dezenas de
velhas placas de números de portas em metal. E uma caixa de esmolas onde está
escrito: “Ajuda discreta de Heusy”. Ainda está cheia de velhos francos belgas. Estamos
constantemente a tropeçar em pedaços de história. Parecemos umas miúdas
pequenas a quem deram livre acesso à caverna do Ali Babá.
Por
enquanto, o nosso trabalho consiste em libertar o sótão onde nos vamos
instalar. E quando digo libertar, estou a ser literal. O centro, neste momento,
é um aglomerado de livros catalogados sabe Deus com que sistema hermético de
catalogação, obras vindas daqui e dali, revistas, jornais, folhetos. Monografias.
Teses. Artigos soltos tirados da net ao longo dos anos. Disquetes, cassetes, VHS,
slides. Fotografias antigas. Montes de fotografias antigas. Carradas de
fotografias antigas. Participações de nascimento, de casamento e de morte.
Vidas inteiras espalhadas por armários e gavetas. Um rádio do tempo dos meus
bisavôs. Retroprojectores, leitores de vídeo, projectores de slides, gravadores.
Uma máquina que ninguém sabia para que servia, mas que foi ficando… até esta
“legendadeira” desvendar o mistério: é uma máquina da pré-história da
legendagem!
E,
o meio de tudo isto, tábuas, loiça vintage, metros de tecido giríssimo, caixas
com veneno para matar ratos (vazias!), parafusos e porcas, peluches, cestos de
flores artificiais, uma árvore de Natal, maquilhagem, posters, microfones,
dezenas de agrafadores, cadeiras desemparelhadas, telhas, potes de pintura, teclados e ratos e cabos. Um sem fim de tralha
aparentemente inútil. Onde uns vêem caos e lixo, eu vejo potencialidades
infinitas. É um problema que tenho desde que me conheço como gente. Sou detentora de
uma imaginação mirabolante.
Temos funções parecidas, pelos vistos :)
ResponderEliminarAssim que começaste a falar no sótão, pensei logo: "Grande sorte, deve estar cheio de "tesouros"!" :)
ResponderEliminarHá dias, também estive a fazer umas arrumações num escritório de uma Associação de que faço parte e fiquei encantada com um material de escritório antigo que por lá há. Deixei-o lá ficar num cantinho, até ter oportunidade de confirmar que já não tem utilidade e poder dar-lhe novo destino...
@ Boa, Gralha... já sei a quem pedir conselhos!
ResponderEliminar@ Luísa, eu estou deserta de ter a biblioteca toda pintadinha para começar a expôr as velharias que fomos encontrando. Vai ficar lindo! Aproveito para avisar que a vossa prendinha ainda não seguiu para a casa dos avós maravilhosos porque ainda está na fase de "work in progress", por assim dizer...
relax, ñ te preocupes com isso... aproveita as férias por cá e, se vierem para estes lados, faz uma pausa por aqui, levas mais umas folhas de chá e uns limões, que não dá tanto jeito enviar pelo correio ;) beijinhos
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