(porque
esta porcaria vai demasiado depressa para o meu gosto)
Estava
esta alma em pleno trabalho de parto, naquela altura em que passamos algures
para o outro lado, quando decidi que afinal não queria ter um filho. E gritei
em alto e bom som que me queria ir embora, que não estava preparada para ser
mãe e que, portanto, o melhor mesmo era não ter bebé nenhum. Ninguém me prestou
atenção, claro… mas apressaram-se a dar-me a epidural. Menos mal.
Horas
mais tarde, quando me trouxeram o Diogo a meio da noite e o puseram no meu colo,
tive um ataque de pânico. Sim, senti um amor imenso. Um amor maior. Mas também
senti que me tinham roubado o coração para todo o sempre. Percebi que, a partir
daquele momento, eu era responsável por outra vida até ao fim dos meus dias.
Não havia volta a dar. Estivesse ou não preparada, agora era a valer. Tinha
entrado irremediavelmente no mundo dos adultos e tinha arrastado aquele ser minúsculo
atrás.
A
sensação de vertigem tem-se repetido muitas vezes ao longo destes quase 13
anos. A vontade de mandar parar o carrossel e descer. Porque não me sinto capaz
de acompanhar o ritmo. Estar à altura da responsabilidade. Conseguir levar este
barco a bom porto, sem deixar entrar demasiada água. Porque o desafio é
constante e às vezes perco momentaneamente o Norte.
Quando
começou a falar aos sete meses e nunca mais se calou. E, aos dois anos, quando anunciou
que “acreditava no Senhor”. Quando aos três explicou que não tinha dito que estava
surdo para “não ser diferente dos outros meninos”. Quando eu andava às voltas
com um bebé colérico e me gritou com raiva que, já que não tinha tempo para
ele, ia aprender a ler sozinho. E aprendeu. Quando o vi assumir o lugar ingrato
de guarda-redes aos 6 anos, mal se aguentava nos patins. E, aos oito, quando uma
médica nas urgências percebeu que era vítima de bullying na escola. Quando me
agradeceu por o ter obrigado a andar no trompete, no final do primeiro ensaio
na mini-banda, porque “sentia uma emoção dentro do peito”. Quando chorou a
noite toda nos meus braços, com quase 11 anos, ao descobrir que o pai tinha
saído de casa. E, pouco depois, quando me pediu para me “agarrar à vida” por
ele, pelo irmão. Quando no outro dia me abraçou e me disse que era tão bom
ver-me feliz e apaixonada.
Desde
que entrou para o secundário, o meu menino crescido começou a crescer ainda
mais depressa. Demasiado depressa. Já lhe disse para ir mais devagar, que eu
não estou a conseguir acompanhar a pedalada, mas ele não me liga nenhuma. Suspira.
Levanta a voz. Grunhe. Fala para dentro. Questiona. Resmunga. Fala pelos
cotovelos, da escola, dos amigos, dos professores, de livros, de filmes, de
música, de séries, de culinária, da namorada. Da namorada, uma e outra vez.
A
vida gira à volta da loirinha. Das conversas que têm. Dos poemas que lhe manda e ela estranhamente
não percebe (apesar de escolher os mais simples de Shakespeare na versão
original). Do que fazem nos recreios. Do que escrevem no Facebook. Da nova foto
de perfil dos apaixonados a darem um beijo na boca. Da prenda que temos de lhe ir comprar para o Dia dos
Namorados. De que temos de passar no
banco para ele levantar dinheiro. De que está nervoso para saber se ela gosta…
Nestes
últimos tempos, voltei a sentir a já conhecida sensação de vertigem. Parece-me
que estamos novamente numa daquelas descidas vertiginosas. Sinto o estômago
colado às costas. Não tenho muito tempo para pensar. As novidades sucedem-se. O
carrossel não pára.
[
Não sou a única, é preciso que se diga. O Vasco, no outro dia, meteu-se na
nossa cama e fartou-se de chorar. “É namorada para lá, namorada para cá… ele já
não gosta de mim! Tenho a certeza de que já não sou importante na vida dele.
Ela é…” ]
Tens um Diogo absolutamente fenomenal e ele tem uma mãe à altura. Tenho a certeza que ele será um grande homem contigo como referência.
ResponderEliminarO carrocel, que aparentemente não controlas, visto daqui, parece-me fabuloso.
ResponderEliminarO princípio é sempre o mesmo: com medo, mas a fugir para a frente. :)
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