(depois de um dia de trabalho,
descobri
que o meu filho Diogo é um acérrimo defensor)
Celebrou-se,
no passado dia 21 de Março, o Dia Mundial da Trissomia 21. No Domingo, a associação onde
trabalho deu numa grande festa que juntou pais, filhos, profissionais, filhos dos
profissionais… E, o que era suposto ser mais um dia de trabalho, transformou-se
numa tarde de puro divertimento. Para mim e para os miúdos, que tiveram de ir a
reboque.
Eu
tinha-os avisado que todos os chefes dos diferentes serviços da associação iam
estar presentes, bem como os colegas com quem convivo diariamente. Pessoas que
eu já conhecia e pessoas que ia ter a oportunidade de ver pela primeira vez.
Portanto, esperava que tivessem um comportamento irrepreensível. Nada de
discussões, gritos, correrias ou birras. E nada de se porem a comer como uns
alarves esfomeados, que é sempre o meu maior receio.
Para
além disso, tive o cuidado de lhes explicar exactamente em que consistia a
trissomia 21. Mostrei-lhes vídeos e fotografias de outras crianças e jovens com
trissomia 21. Expliquei ao Vasco que tinha de ter cuidado quando estivesse a
brincar com os meninos mais pequeninos. E disse ao Diogo para agir normalmente
quando falasse com a rapaziada da idade dele.
Embora
não estivessem contrariados, também não estavam propriamente a delirar por
terem de ir trabalhar com a mãe, num domingo que prometia sol. Mas, mal
entraram no recinto, ambos os meus filhos decidiram vestir a camisola e
aproveitar ao máximo. O Vasco pegou num mapa do sítio e não descansou enquanto
não experimentou todas as actividades disponíveis: passeios de burro, pinturas
faciais, segways, discoteca, ateliers de desporto e de pintura, etc. O Diogo,
quando se fartou de fazer de babysitter
do irmão, quis ajudar a sério. Esteve à entrada a vender senhas e gauffres. E,
no final, ajudou a arrumar tudo. Foi alvo dos mais rasgados elogios. Eu estava
babadíssima por trabalhar lado a lado com este filho (cada vez mais) crescido.
Claro
que o Vasco, quando se viu entregue a si mesmo, mostrou a sua candura natural…
que é como quem diz, soltou a fera que habita naquele corpo de metro e pouco. Meteu-se
com toda a gente com quem se cruzou, falou pelos cotovelos, disse disparates e
pôs toda a gente a rir. Correu e brincou sem parar com miúdos iguais a ele e com
outros um bocadinho diferentes. Jogou matraquilhos com o meu chefe e deu-lhe um
raspanete quando perderam. Nem sequer percebeu que estava a jogar contra uma
equipa de meninas com trissomia 21. De caras pintadas e aos gritos são todos
iguais.
O
Diogo estava pasmado a ver os adolescentes, com diferentes tipos de deficiência
cognitiva, que quiseram participar no nosso concurso. O objectivo era estimar o
peso de um enorme frasco de vidro cheio de doces. Um dos administradores apostou
8kg, quando todos os miúdos se ficaram pelos 2,5/3kg. O peso correcto era 2,831kg!
O
chefe dos ATL da associação, que eu ainda não conhecia, passou grande parte da
tarde à conversa connosco. Às páginas tantas, pergunta-me: “Então, com excepção
do trabalho e destes rapazes fantásticos, o que fazes dos teus dias?”. Ainda estava
eu a pensar numa resposta decente, quando o Diogo começa a discorrer sem parar sobre
a minha pessoa: “A minha mãe?! A minha mãe nunca pára! É muito enérgica, está
sempre a fazer alguma coisa! Além do trabalho na associação, dá aulas de
Espanhol à noite. No ano passado, dava aulas de Inglês. E faz traduções. Ela é
tradutora, fala quatro línguas. Trabalha muito, a minha mãe! Também tem um
blog. E tem muito jeito de mãos! Faz bricolagem, adora trabalhar a madeira. Em poucos
minutos, consegue transformar um pedaço de madeira num candeeiro! Para além do
tempo que dedica à casa. Está sempre a limpar e a arrumar. É uma excelente
cozinheira!” Cada vez mais envergonhada, eu só conseguia balbuciar: “Ó Diogo… Ó
Diogo…” Ao que ele ia respondendo: “Ela é uma excelente mãe. Uma pessoa muito
especial.”
Quando
chegámos a casa, completamente derreados, perguntei-lhe o que lhe tinha passado
pela cabeça para se pôr a fazer aqueles elogios todos. Que embora ficasse feliz
por ver que ele me achava uma mãe especial, não devia recitar as
minhas supostas qualidades como se me estivesse a leiloar. O Diogo defendeu-se
dizendo que se tratava de um chefe e que era importante valorizar-me.
Lá expliquei que ele não tinha que se preocupar, porque o meu trabalho estava
assegurado, eu já tinha um contrato. E, do alto dos seus quase 13 anos, ele
rematou: “Sim, tens um contrato. Mas podes sempre conseguir uma promoção, nunca
se sabe. De qualquer modo, é sempre melhor terem-te em boa conta no trabalho,
sabes?”.
Algo me diz que este tipo não sofre de falta de ambição e que se vai safar no mundo do trabalho...
Algo me diz que este tipo não sofre de falta de ambição e que se vai safar no mundo do trabalho...
Sabes que ele tem razão, não sabes?!
ResponderEliminarNós temos a mania de nos vendermos por pouco e não sabermos valorizar as nossas capacidades... e ele até tem olho para a coisa! Uma promoção é sempre uma promoção ;)
Eu sou uma gaja discreta, Naná! E o meu filho é um desbocado... :)
ResponderEliminarFilho fixe! :D
ResponderEliminarGostei muito! E vivam os Diogos (eu também tenho um...)!
ResponderEliminar@ Sem sombra de dùvida, Irene... vivam os Diogos! :)
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