(para
quem eu nunca me canso de fazer sobremesas)
O
Diogo nunca teve muitos amigos. Nunca foi um miúdo popular. E sempre sofreu imenso
com isso. Até virmos viver para a Bélgica e ele ter a coragem de assumir a sua
verdadeira personalidade.
Agora,
quando o vejo rodeado de amigos, fico de coração cheio. Passo horas a ver o
mural dele no facebook. Rio-me com as fotos malucas que tira com os colegas na
escola. Emociono-me quando leio as declarações públicas de amor que lhe fazem.
Tantas. Tão bonitas. Vindas de raparigas e rapazes que souberam quebrar aquela
velha couraça. Porque o meu filho grande é um miúdo invulgar e um bocadinho
estranho. Tem conversas e gostos de gente grande. Mas faz um esforço enorme
para se adaptar aos outros miúdos da sua idade. E a verdade é que os colegas
parecem gostar mesmo do Diogo. Eu sei que isto pode parecer banal, mas a mim enche-me de alegria.
Há
uma menina em especial que o adora. A Marie tem 16 anos e anda no 10º ano. Por
coincidência vivem na mesma aldeia, mas conheceram-se na escola em Vielsalm. E
nunca mais se largaram. Quando os ouço falar, vejo apenas dois amigos. Sem
diferença de idades. Embora haja um mundo a separá-los.
A
Marie é uma miúda faladora e curiosa, que não tem qualquer vergonha em mostrar as
origens humildes. Faz imensas perguntas, desfaz-se em elogios e agradecimentos,
com uma educação irrepreensível. Hoje explicou-me sem pudor que a mãe é
empregada doméstica e o pai operário. Que a mãe tem imenso trabalho porque toda
a gente gosta dela. E que ela tem muito orgulho neles. Lá em casa não comem
coisas boas e estranhas como aqui, nem há sobremesas. Mas há sempre fruta. Nunca
viajam, nem sequer pela Bélgica. Mas ela já lhes prometeu que vai levá-los
a passear quando forem velhinhos. A mãe não a deixa ver o “Criminal Minds”, nem
filmes policiais. Mas têm uma grande família que se reúne muitas vezes. Para
cada aspecto menos positivo da sua vida, a Marie apresentou algo genuinamente
bom com uma lucidez que me desarmou. Com uma honestidade rara. E um sorriso no
olhar. Vê-se que é uma miúda feliz, de bem com a vida.
E
eu, que admiro com espanto este meu novo filho desenvolto e popular, acho que
ele não podia ter escolhido melhor amiga. E hei-de sempre fazer jantares elaborados
e sobremesas deliciosas especialmente para a Marie. A miúda mais querida que eu
já conheci.
É tão bom saber que há pessoas assim!
ResponderEliminarQuem meu filho beija, minha boca adoça, lá está :)
ResponderEliminar