(porque
é melhor não subestimar os medos de uma mãe)
Nas
férias escolares, os meus filhos apanham o avião para irem ter com o pai a
Portugal. E eu despeço-me sempre deles com o coração apertado. Pequenino. Por
mais que o tempo passe, não me consigo habituar.
Sinto
um nó na garganta quando os vejo partir, assim, sozinhos. Mala numa mão e
cartão de embarque na outra, como gente grande. O Vasco vai sempre acompanhado
por uma hospedeira de bordo, mas não é por isso que fico mais descansada.
Principalmente desde que o mandaram ir sozinho à casa de banho, no caótico
aeroporto de Madrid, quando ele tinha apenas 5 anos. Não esquecer que a coisa
pequena é um artista da fuga. Um segundo de distracção e ele desaparece como
que por magia. Tenho medo que um dia me liguem a dizer que foi parar a Timbuktu
por engano.
Em
relação ao Diogo as coisas também não são simples. Se dependesse de mim, ele
ainda viajava acompanhado. Sem dúvida que é um miúdo desenrascado, maduro para
a idade. Mas eu bem vi o olhar de medo no último voo para Lisboa, quando uma
tempestade se abateu sobre nós durante quase duas horas e o avião falhou a
aterragem. É precisamente nesses momentos que os 12 anos reais vêm ao de cima.
Já para não falar do facto de depender sempre da boa vontade da tripulação para
o levarem a reboque do irmão. Quando voltaram das últimas férias grandes, o
funcionário do aeroporto de Bruxelas que os foi buscar ao avião recusou-se a
assumir a responsabilidade de transportar no autocarro um miúdo que não estava
incluído no grupo. Todos os outros passageiros já tinham partido e os miúdos
acompanhados continuavam sem poder sair, enquanto a tripulação da Ibéria
discutia com o belga cioso das suas responsabilidades. Achei que ia assistir a
um motim de pais à medida que o tempo passava e os miúdos não apareciam. Claro
que, quando finalmente apareceu, o dito funcionário se apressou a explicar-lhes que eu era a culpada do
atraso. E da fome no terceiro mundo. Da destruição da camada de ozono. Da crise
económica mundial.
Apesar
de tudo, despeço-me deles com um falso sorriso de orelha a orelha. E um
descontraído: “Se se lembrarem, liguem à mãe quando chegarem”. Fico a vê-los
desaparecer no corredor acenando alegremente. E, depois, fixo o olhar no avião até
o perder na imensidão do céu. A sensação de mal-estar aumenta. Saio sempre do aeroporto
com o coração pequenino. Custa-me vir embora sozinha. Parece que me falta algo.
O problema é que esse algo que me falta está entregue nas mãos estranhos.
Deve custar umas coisas valentes, sim senhora. Coração de mãe nunca pode estar de folga, que coisa :)
ResponderEliminarO mais triste é que quando a mãe está de folga, o coração trabalha ainda mais...
ResponderEliminarjuro que não sei se seria capaz de aguentar tal provação...
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