(porque
às vezes também é preciso partir à aventura a dois)
A
coisa que eu mais gosto na Bélgica é a rapidez com que se consegue sair daqui,
não me canso de repetir. Em pouco mais de meia hora, estamos noutro país
completamente diferente. A paisagem é outra, a arquitectura é outra, as pessoas
são outras, a língua é outra. A história e as estórias são outras. E isto – apenas
isto – faz com que eu sinta que fui muito longe. Que me aventurei. Que mudei de
ares. Que fui quase de férias. É ir ali num pulinho e voltar, em que aproveitamos
para encher os olhos de coisas novas. Para aprender. O mundo é muito grande,
infelizmente uma vida inteira não chega para o percorrer de lés a lés. A única
maneira de lutar contra isso é tentar desbravar todos os caminhos que estão à
minha volta. Com a sofreguidão própria de quem quer ir sempre mais além.
Partir
à aventura a quatro é sempre uma delícia. Ver novas terras pelos olhos dos meus
filhos é ter acesso a outros pormenores que escapam aos nossos olhos de adultos.
Aos nossos olhos “poluídos”, como diz o meu amor. Ficou para a (nossa) história o
passeio que fizemos a Aachen, na Alemanha, no pino do Inverno de 2012. Fazia um
frio de rachar e nós andávamos a toque de caixa para não gelar. Até que os
sinos da catedral começaram a tocar e o Vasco decidiu sentar-se calmamente no
chão a apreciar o concerto inesperado. E dali não arredou pé durante quase 15
minutos, imune às nossas súplicas. Às tantas, desatou num pranto sentido.
Estava comovido com a beleza da música, disse. A emoção do Vasco obrigou-nos a prestar
atenção àquilo que para nós era apenas ruído de fundo, no meio da cacofonia
do final de tarde na cidade. Acabámos por desistir e sentámo-nos todos a ouvir
os sinos. De facto, a música era deslumbrante. E, hoje, o que recordamos desse
passeio são os sinos da catedral de Aachen.
Desta
vez, decidimos partir à aventura a dois. Vivemos exclusivamente em função dos
rapazes durante o ano inteiro. Quando eles não estão connosco, aproveitamos para
cuidar de nós, do nosso amor. Aproveitamos para namorar. E também é espantoso
poder dar passeios mais longos, mais demorados, mais distantes. Passeios em que
não temos de nos preocupar com nada. Sem horários, nem obrigações. Só nós os
dois. E esta paixão comum pelo inesperado. Pegar no carro e partir. Sem saber
ainda muito bem qual o destino final. Desta vez, nem GPS levámos… Fomos parar a
Prüm, na Alemanha. Passeámos muito, pelas ruas da cidade e pelos campos em
redor. Comemos a desoras num boteco tailandês. Como não percebíamos patavina da
ementa, encomendámos ao calhas. Não nos arrependemos da escolha. Visitámos
vários monumentos que, à primeira vista, parecem antigos, mas que agora sei
serem réplicas exactas, típicas das cidades encalhadas nas Ardenas que foram
completamente dizimadas durante a Segunda-Guerra mundial. E, mais uma vez, me
espantei com a erudição do meu amor. O melhor dos cicerones. O melhor
companheiro de aventuras. Passear com ele é mergulhar no passado, onde história
e lendas se cruzam numa narrativa apaixonante.
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