(onde
se mostra que com um bocadinho de esforço isto vai lá)
D.
Fuas Roupinho é, como se sabe, uma criatura meio selvagem. Estranho cruzamento
entre um texugo e um cão, que dorme de patas no ar e língua de fora. Persegue
inimigos mesmo em sonhos, rosnando e choramingando baixinho. Vive eternamente à
procura do ponto de fuga, bicho indómito que é. O instinto de caça está-lhe no
sangue e pouco se pode fazer contra isso.
Ao
fim de quase cinco anos de feroz convivência, capitulámos. Decidimos começar a
soltá-lo, durante os nossos passeios ao Domingo pelos bosques. Por fim,
aceitámos que não vale a pena tentar que ele ande calmamente ao nosso lado. Ou
que corra alegremente à nossa volta, como todos os outros cães com os quais nos
cruzamos. Coração ao alto (o nosso), e lá vai ele...
Quando
solto em plena natureza, D. Fuas larga a correr como se não houvesse amanhã.
Como se toda a caça do mundo estivesse ali escondida, entre as árvores, à
espera de ser apanhada. Por isso, desaparece num ápice. Depois, volta. Por
vezes, demora muito tempo. Mas, quando finalmente aparece, todo ele é felicidade.
Acho que se pode dizer que a
aprendizagem foi mútua. Nós tivemos que aprender a confiar no instinto dele. De
ir e voltar. Sobretudo, voltar. Ele teve de aprender a não ir longe demais, a
dosear a correria desenfreada. A regressar, quando ouve o nosso chamamento
preocupado ao longe. Até agora, tem corrido bem… Isto é, ele tem voltado sempre. E ainda nunca trouxe
um bambi assustado na boca.
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