(ou
das mudanças que se avizinham)
Prometi
que, quando esta longa batalha terminasse, ia cuidar de mim. E o que é isso de
cuidar de mim? É um misto que regresso às origens com olhar em frente. Há
coisas que deixei simplesmente de fazer, nem sei bem porquê. Demorei um certo
tempo a perceber que virar a página não significava apagar tudo o que ficou
para trás. Porque, afinal, o passado também tinha coisas muito boas, que
deixaram um vazio. Coisas que faziam de mim uma pessoa melhor, mais feliz, mais
saudável. Mais completa. Que exigiam mais de mim. Tempo, principalmente. Ora,
como se sabe, tempo é algo que nunca sobra, por estes lados. Mas eu prometi. O
meu amor fez-me prometer. Disse-me que agora estava na hora de concentrar toda
a minha energia e força em mim mesma. Que essa era a única maneira de dar sentido
a isto tudo. Que já chegava de sobrevivência, agora tinha mesmo de viver. Viver
uma vida plena. Inteira. Ser mais eu. E, então, percebi. Finalmente,
compreendi aquele poema de Ricardo Reis que, de vez em quando, me vêm à memória:
Para ser grande, sê inteiro: nada/ Teu
exagera ou exclui./ Sê todo em cada coisa. Põe quanto és/No mínimo que fazes./
Assim em cada lago a lua toda/ Brilha, porque alta vive.
Para
eu ser quem sou, preciso de livros. Tenho dedicado algum tempo a escrever, o
que me dá um enorme gozo. E trouxe pessoas muito interessantes à minha vida. Mas
eu preciso de ler. A literatura é o meu mundo. E a música tem de ecoar nestas
paredes. Tenho de voltar a praticar desporto, contrariar o meu problema nos
ombros. Manter a elasticidade que sempre tive. Tenho de continuar a esforçar-me
por dormir, o que para mim foi toda uma aprendizagem. Tentar comer melhor,
sempre. Mais natural, mais saudável. O nosso jardim está finalmente a tomar
forma, está na hora de começar a aproveitar o que a terra nos pode dar.
Vegetais, legumes, fruta. Tenho de voltar a fazer os meus próprios produtos de
limpeza, como fazia antigamente. Quero ver se diminuo os químicos nesta casa.
Até mesmo nos medicamentos. No outro dia, ofereceram-me um livro sobre
medicinas alternativas, tenho de o analisar melhor. Aproveitar o facto de sermos
todos saudáveis nesta família para tratar de nós de forma mais natural e
preventiva. Tenho de voltar a dar passeios grandes pela região. Há tantos
percursos aqui à volta, há que aproveitar o regresso do bom tempo para os
explorar. A quatro, a dois, sozinha. Tenho de passar mais tempo sozinha. Talvez
voltar a estudar. Quem sabe um doutoramento… ou criar um negócio de raiz. Tenho
de me rodear de novas pessoas. Preciso de amigos. Mantenho todos os que
ficaram. É um dos grandes orgulhos que tenho na vida: atravessei épocas e
quilómetros e nunca ficou ninguém para trás. Mas agora preciso de aprender a fazer
novos amigos, que possam fazer parte desta nova etapa da minha vida.
Não
acredito em coincidências. Não acredito em karmas, nem em conspirações cósmicas
ou divinas. Sou demasiado terra-a-terra. Mas há coisas estranhas. No preciso
momento em que a roda começou novamente a girar, fiz duas novas amigas. Assim,
de repente. Daquelas que a gente sabe sem saber porquê que tinham mesmo de
cruzar o nosso caminho, pois têm algo importante para nos ensinar. Daquelas
que a gente sabe sem saber explicar que vieram para ficar. E é tão bom. Como diria
Sérgio Godinho... É que hoje fiz um amigo/ E coisa mais preciosa no mundo não há.
O mui gasto cliché bate certo: há pessoas que entram nas nossas vidas no preciso momento em que tinham que entrar...
ResponderEliminarEu também acredito que sim, Naná. Há coisas estranhas mesmo... ;)
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