(onde
se fala dos dois protagonistas de um espectáculo de ballet)
Neste
dia, para mim, houve duas estrelas. Os meus olhos tentavam acompanhá-las a
ambas, admirados. Encantados. Nunca tinha visto nada assim, em palco e na
plateia.
O
Vasco, sob os holofotes, parecia outro. Transfigurou-se. Se nos ensaios estava
sempre uns segundos atrasado e tinha de seguir a meninada, ali, não falhou um
passo. E tão nervoso que ele estava, antes de entrar! Percebi que os cinco anos
de audições de violino deram-lhe um à-vontade em palco que as colegas não possuíam.
Um autocontrole conquistado à custa de muito treino. Uma capacidade de se
transcender. Mas a idade agora é outra. A coisa pequena já não sobe ao palco com
a mesma descontracção. Sente a necessidade de fazer bem feito, de fazer bonito.
De dar espectáculo. Daí os nervos iniciais, que o Vasco soube perfeitamente controlar.
Foi, de facto, bonito de se ver. O ar sério, compenetrado. De miúdo crescido. O
corpo leve, de bailarino. Os passinhos. O tempo.
Na
plateia, o meu amor dormitava exausto. O dia tinha sido longo, sobrecarregado de
compromissos em Liège. Sem carro, apanhou todos os transportes públicos possíveis,
numa corrida contra o tempo para ver o Vasco dançar. Consegui ir buscá-lo à
estação de comboios mais perto, mesmo em cima da hora. Quando anunciaram a
turma do Vasco, o meu amor despertou de repente. Pegou na máquina fotográfica e
saltou lá para a frente, sem uma palavra. Na penumbra, consegui vê-lo a
procurar o ângulo perfeito. A seguir, em suspenso, os movimentos. A parar de
fotografar e de filmar por momentos, apenas para contemplar a coisa pequena,
longe da objectiva. E ver o Vasco dançar tão bem através dos olhos e da emoção do
meu amor foi outro espectáculo em si. É ser amada também através do amor que os
meus filhos suscitam.
[ adoro este pequeno vídeo apenas pelos passinhos delicados do Vasco quando saiu de cena, depois da primeira apresentação... ]
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