terça-feira, 21 de abril de 2015

Projecto terminado!

(onde também se fala de economia doméstica)



 
Lembram-se do “projecto” que os homens da casa congeminaram nas minhas costas? Após três meses de intensa labuta, está finalmente terminado. E eu tenho de dar a mão à palmatória… ficou fantástico!

Admito que a ideia de fazer um home cinema no sótão, ao lado do quarto do Diogo, não me deixou lá muito entusiasmada. Era uma divisão impenetrável, que servia basicamente de arrumos, vulgo depósito de lixo. Lixo potencialmente reutilizável, bem entendido. Aliás, foi lá que desencantámos a cómoda antiga com tampo de mármore que está no nosso quarto. Estava para ali esquecida há décadas, entre latas de pintura seca, cadeiras de vários estilos empilhadas e rolos de linóleo dos anos 60. A primeira fase do trabalho dos meus homens – hercúleo, diga-se de passagem – foi eliminar todo o material de construção que se foi acumulando ao longo das sucessivas remodelações que a casa sofreu desde que foi construída, no início da segunda Guerra Mundial.

Aos poucos, o sótão foi ficando vazio… e cada vez mais frio. Gelado, para ser mais exacta. O meu amor decidiu, então, condenar a parte lateral que dava para a rua, fechando-a. Aproveitou e fechou também a única janela existente. Ainda tentei barafustar, mas perguntaram-me se alguma vez tinha visto uma sala de cinema com janelas. Fiquei sem argumentos. Felizmente, escolhi a melhor altura para abandonar a discussão. A segunda fase do projecto, implicou horas de aspiração para eliminar o pó todo das paredes de tijolo e do soalho de tábua corrida.

A primeira compra que os homens fizeram a solo foi um leitor de Blue-Ray com um sistema de som Dolby Surround que os deixou felizes da vida. Acho que foi uma pechincha, porque apanharam uma promoção qualquer numa loja em segunda mão em Liège. Escusado será dizer que não fui convidada para testar o volume do som, nem escolher a melhor localização para as cinco colunas…

A fase seguinte dos trabalhos foi, sem dúvida, a mais demorada: cobrir as paredes e o tecto com camadas de isolamento acústico. O meu amor mandou vir as mousses isolantes detrás do sol-posto, a preços “asiáticos”. O camião da transportadora demorou quase uma semana a chegar, mas valeu bem a pena a espera. Esta fase, para os miúdos, foi bastante maçadora. Dias a fio às voltas com um trabalho monótono e difícil. Havia paredes em que a cola não aderia e era preciso pregar. No tecto, além de pregar, foi preciso coser as placas de mousse umas às outras. Já para não falar de superfícies com formatos esquisitos, em que era preciso cortar as placas à medida… Mas há que dizer que a recta final do trabalho foi feita exclusivamente pelo Diogo e pelo Vasco, sob supervisão não muito atenta do meu amor. O resultado não ficou tão perfeito como eu gostaria, mas eles ficaram orgulhosíssimos.

Foi nesta fase que o Vasco e eu entrámos em campo com a decoração. Comprámos um tapete de corda que cobria grande parte do soalho antigo e dois cadeirões de verga por trinta euros na nossa loja de velharias preferida, em Bastogne. Forrámos umas estantes antigas do sótão que o meu amor conseguiu recuperar. No cinema onde vamos habitualmente – o tal onde não se pode comer pipocas nos filmes “intimistas”… – comprámos alguns posters de filmes que já tinham saído de cartaz.

Aos poucos, o nosso home cinema foi-se compondo, mas continuava a faltar a pièce de résistance. Demorámos muito tempo a decidirmo-nos entre um LCD HD ou um projector e uma tela. Mesmo em segunda mão, os projectores são caríssimos. O problema é que as lâmpadas têm um número de horas de utilização limitado, sendo preciso substituí-las com bastante frequência. Passámos imenso tempo a pesquisar diferentes sites na internet e acabámos por desistir. Infelizmente, não estava ao alcance das nossas posses. Optámos, então, pelo LCD. E, nessa mesma semana, tive a sorte de encontrar um LCD HD de 47 polegadas em promoção numa loja de electrodomésticos usados perto do trabalho. Os meus homens dizem-me que quando saiu, uns tempos antes, custava perto de 2000 mil euros, mas custa-me a acreditar que alguém conseguisse dar tanto dinheiro por uma simples televisão. Sempre pensei que não havia nada que pudesse desvalorizar mais do que os carros novos quando saem do stand, mas estava enganada.

O home cinema estava finalmente pronto, mas os utilizadores queixaram-se que os cadeirões eram inconfortáveis. Menos mal, era da maneira que levantavam o traseiro mais depressa e iam à vida deles. Entre os filmes de vídeo, as séries, os desenhos animados e os jogos da Xbox, acho que facilmente passarão mais tempo do que o recomendado à frente de um ecrã. Mas, pronto, uma mãe com saudades fica com o coração mole e deixa-se cair em tentação. Quando os miúdos estiveram de férias em Portugal, num dos nossos périplos pelas já costumeiras lojas de móveis usados, encontrámos um sofá pequenino. Achei piada a coincidência e trouxe-o (até porque, além de barato, tinha a vantagem de ser desmontável e poder passar nas escadas estreitas do sótão). Tinha encontrado a nossa cama naquela mesma loja, quando andei à procura de um sofá para o home cinema. Desta vez, andávamos à procura de uma “nova” cama para o Diogo e encontrámos o sofá.

Resta-me dizer que, felizmente, a folha de encargos deste projecto ficou bastante aquém das minhas piores expectativas. Todo o trabalho de remodelação foi feito pelos homens da casa, do maior ao mais pequenino. E foi sendo feito aos poucos, à medida que o nosso tempo livre e as nossas finanças o permitiam. A parte decorativa seguiu exactamente as mesmas regras. Procurámos muito, tivemos de ajustar sonhos mais irrealistas ao que fomos encontrando em segunda mão. O home cinema demorou três meses a ficar pronto, uma imensidão de tempo na cabeça de uma criança. Nesta casa, vive-se teimosamente sem cartões de crédito. Acho que uma das lições de economia mais valiosas que posso dar aos meus filhos é ensiná-los a esperar para terem aquilo que desejam. A trabalharem para terem aquilo que desejam. “Tens de esperar pelo final do mês”, “agora não posso”, “não está ao alcance das nossas possibilidades”, “E se pedisses isso nos anos?”… são frases que os meus rapazes estão habituados a ouvir. Sem vergonha nenhuma. Afinal de contas, acho que acabamos sempre por ter tudo o que queríamos. Demora é mais um bocadinho. Admito que me faz uma certa confusão usufruir de algo de imediato que não podia comprar e ir pagando aos poucos. Para mim, isto é que é “comprar a prestações”, porque os objectos aparecem aos poucos, à medida que vai havendo dinheiro.






 

5 comentários:

  1. E agora divirtam-se. Já nem faz diferença estar frio e chuva lá fora :)

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  2. Ahhhh... mas agora está um sol imenso neste país, Gralha!!! :D

    (nota-se muito o meu tom excessivamente histérico de felicidade?!)

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  3. O bom daquilo, Paula, é que se os meter lá dentro, fechar a porta e for atirando comida de vez em quando, nem os ouço durante horas porque é completamente insonorizado! ;)

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  4. T-xi-na-pá... profissionais do ramo não teriam feito a coisa melhor!!!

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  5. Mas isto é mesmo um "ramo" que tenha profissionais a sério e tudo, Naná?! Hum... talvez possa pôr os homens da casa a render! :)

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