(onde
também se fala de economia doméstica)
Lembram-se
do “projecto” que os homens da casa congeminaram nas minhas costas? Após três
meses de intensa labuta, está finalmente terminado. E eu tenho de dar a mão à
palmatória… ficou fantástico!
Admito
que a ideia de fazer um home cinema no sótão, ao lado do quarto do Diogo, não
me deixou lá muito entusiasmada. Era uma divisão impenetrável, que servia
basicamente de arrumos, vulgo depósito de lixo. Lixo potencialmente
reutilizável, bem entendido. Aliás, foi lá que desencantámos a cómoda antiga com
tampo de mármore que está no nosso quarto. Estava para ali esquecida há décadas,
entre latas de pintura seca, cadeiras de vários estilos empilhadas e
rolos de linóleo dos anos 60. A primeira fase do trabalho dos meus homens –
hercúleo, diga-se de passagem – foi eliminar todo o material de construção que
se foi acumulando ao longo das sucessivas remodelações que a casa sofreu desde que
foi construída, no início da segunda Guerra Mundial.
Aos
poucos, o sótão foi ficando vazio… e cada vez mais frio. Gelado, para ser mais
exacta. O meu amor decidiu, então, condenar a parte lateral que dava para a
rua, fechando-a. Aproveitou e fechou também a única janela existente. Ainda
tentei barafustar, mas perguntaram-me se alguma vez tinha visto uma sala de
cinema com janelas. Fiquei sem argumentos. Felizmente, escolhi a melhor altura
para abandonar a discussão. A segunda fase do projecto, implicou horas de
aspiração para eliminar o pó todo das paredes de tijolo e do soalho de tábua
corrida.
A
primeira compra que os homens fizeram a solo foi um leitor de Blue-Ray com um
sistema de som Dolby Surround que os
deixou felizes da vida. Acho que foi uma pechincha, porque apanharam uma
promoção qualquer numa loja em segunda mão em Liège. Escusado será dizer que
não fui convidada para testar o volume do som, nem escolher a melhor
localização para as cinco colunas…
A
fase seguinte dos trabalhos foi, sem dúvida, a mais demorada: cobrir as paredes
e o tecto com camadas de isolamento acústico. O meu amor mandou vir as mousses
isolantes detrás do sol-posto, a preços “asiáticos”. O camião da transportadora
demorou quase uma semana a chegar, mas valeu bem a pena a espera. Esta fase,
para os miúdos, foi bastante maçadora. Dias a fio às voltas com um trabalho
monótono e difícil. Havia paredes em que a cola não aderia e era preciso
pregar. No tecto, além de pregar, foi preciso coser as placas de mousse umas às
outras. Já para não falar de superfícies com formatos esquisitos, em que era
preciso cortar as placas à medida… Mas há que dizer que a recta final do
trabalho foi feita exclusivamente pelo Diogo e pelo Vasco, sob supervisão não
muito atenta do meu amor. O resultado não ficou tão perfeito como eu gostaria,
mas eles ficaram orgulhosíssimos.
Foi
nesta fase que o Vasco e eu entrámos em campo com a decoração. Comprámos um tapete de corda que cobria grande
parte do soalho antigo e dois cadeirões de verga por trinta euros na nossa loja
de velharias preferida, em Bastogne. Forrámos umas estantes antigas do sótão
que o meu amor conseguiu recuperar. No cinema onde vamos habitualmente – o tal onde não se pode comer pipocas nos filmes “intimistas”… – comprámos alguns posters
de filmes que já tinham saído de cartaz.
Aos
poucos, o nosso home cinema foi-se compondo, mas continuava a faltar a pièce de résistance. Demorámos muito
tempo a decidirmo-nos entre um LCD HD ou um projector e uma tela. Mesmo em
segunda mão, os projectores são caríssimos. O problema é que as lâmpadas têm um
número de horas de utilização limitado, sendo preciso substituí-las com
bastante frequência. Passámos imenso tempo a pesquisar diferentes sites na
internet e acabámos por desistir. Infelizmente, não estava ao alcance das
nossas posses. Optámos, então, pelo LCD. E, nessa mesma semana, tive a sorte de
encontrar um LCD HD de 47 polegadas em promoção numa loja de electrodomésticos
usados perto do trabalho. Os meus homens dizem-me que quando saiu, uns tempos
antes, custava perto de 2000 mil euros, mas custa-me a acreditar que alguém
conseguisse dar tanto dinheiro por uma simples televisão. Sempre pensei que não
havia nada que pudesse desvalorizar mais do que os carros novos quando saem do stand, mas estava enganada.
O
home cinema estava finalmente pronto, mas os utilizadores queixaram-se que os
cadeirões eram inconfortáveis. Menos mal, era da maneira que levantavam o
traseiro mais depressa e iam à vida deles. Entre os filmes de vídeo, as séries,
os desenhos animados e os jogos da Xbox, acho que facilmente passarão mais
tempo do que o recomendado à frente de um ecrã. Mas, pronto, uma mãe com
saudades fica com o coração mole e deixa-se cair em tentação. Quando os miúdos
estiveram de férias em Portugal, num dos nossos périplos pelas já costumeiras
lojas de móveis usados, encontrámos um sofá pequenino. Achei piada a
coincidência e trouxe-o (até porque, além de barato, tinha a vantagem de ser
desmontável e poder passar nas escadas estreitas do sótão). Tinha encontrado a nossa cama naquela mesma loja, quando andei à procura de um sofá para o home
cinema. Desta vez, andávamos à procura de uma “nova” cama para o Diogo e
encontrámos o sofá.
Resta-me
dizer que, felizmente, a folha de encargos deste projecto ficou bastante aquém
das minhas piores expectativas. Todo o trabalho de remodelação foi feito pelos
homens da casa, do maior ao mais pequenino. E foi sendo feito aos poucos, à
medida que o nosso tempo livre e as nossas finanças o permitiam. A parte
decorativa seguiu exactamente as mesmas regras. Procurámos muito, tivemos de
ajustar sonhos mais irrealistas ao que fomos encontrando em segunda mão. O home
cinema demorou três meses a ficar pronto, uma imensidão de tempo na cabeça de
uma criança. Nesta casa, vive-se teimosamente sem cartões de crédito. Acho que
uma das lições de economia mais valiosas que posso dar aos meus filhos é
ensiná-los a esperar para terem aquilo que desejam. A trabalharem para terem
aquilo que desejam. “Tens de esperar pelo final do mês”, “agora não posso”, “não
está ao alcance das nossas possibilidades”, “E se pedisses isso nos anos?”… são
frases que os meus rapazes estão habituados a ouvir. Sem vergonha nenhuma.
Afinal de contas, acho que acabamos sempre por ter tudo o que queríamos. Demora
é mais um bocadinho. Admito que me faz uma certa confusão usufruir de algo de
imediato que não podia comprar e ir pagando aos poucos. Para mim, isto é que é “comprar
a prestações”, porque os objectos aparecem aos poucos, à medida que vai havendo
dinheiro.
E agora divirtam-se. Já nem faz diferença estar frio e chuva lá fora :)
ResponderEliminarAhhhh... mas agora está um sol imenso neste país, Gralha!!! :D
ResponderEliminar(nota-se muito o meu tom excessivamente histérico de felicidade?!)
O bom daquilo, Paula, é que se os meter lá dentro, fechar a porta e for atirando comida de vez em quando, nem os ouço durante horas porque é completamente insonorizado! ;)
ResponderEliminarT-xi-na-pá... profissionais do ramo não teriam feito a coisa melhor!!!
ResponderEliminarMas isto é mesmo um "ramo" que tenha profissionais a sério e tudo, Naná?! Hum... talvez possa pôr os homens da casa a render! :)
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