quinta-feira, 2 de abril de 2015

Um adolescente em Paris

(e uma mãe descansada na Bélgica)


 

Filho grande está em Paris com a escola esta semana. Todos os alunos do oitavo ano do Sacré-Coeur vão ficar três dias num hotel, com professores e educadores. A visita quer-se turística, não escolar. Vão passear pela cidade, ver alguns museus menos conhecidos e visitar a Eurodisney na mais completa liberdade.

Uns dias antes da partida, perguntou-me se estava nervosa. Se esta viagem me deixava preocupada, como os outros pais. “Preocupada com o quê?”, perguntei. Respondi automaticamente que não. Depois, pus-me a pensar no assunto. Parece que há quem tenha medo de novos atentados, da autonomia precoce, da ausência de telemóveis, do facto de dormirem sozinhos num hotel com saída para a rua, de ficarem entregues a eles mesmos quando forem à Eurodisney... Na reunião de informação, os pais expuseram todo o tipo de medos. Sem filtro e sem vergonha. Eu fiquei calada, não estava preocupada. Continuo a não estar. Percebi que há vantagens no facto de ser o filho mais velho de pais divorciados, que moram em dois países diferentes. O Diogo já viajou tanto, já precisou de se desenvencilhar tantas vezes sozinho, que tenho total confiança nas suas capacidades de desenrascanço. Portanto, deixei-o de partir de coração ao alto. Zero preocupações maternas.

Excepto com a conta do telemóvel. Receios perfeitamente justificados, tendo em conta o historial do Diogo. Filho grande tem SMS ilimitados e está habituado a mandar várias mensagens telegráficas para fazer uma simples pergunta, tipo: “Tenho fome/Posso fazer ovos?/Mexidos?/Há 3 ovos no frigorífico/Posso?/Então?”. Expliquei-lhe que em Paris ia ter de ser mais conciso, mas já percebi que não me ligou nenhuma. Esta manhã, teve acesso ao telemóvel. Disse que estava divertir-se muito, que ontem não choveu, que tinha ido a Montmartre e ao Palais des Découvertes, que tinha gasto 40 euros em prendas, que hoje ia subir à Torre Eiffel. Precisou exactamente de oito SMS para me dar estas simples informações. Temo o dia em que vá passar um mês a fazer o InterRail…

Também estava preocupada com a comida, admito. Mais uma vez, medos perfeitamente justificados, tendo em conta o historial alimentar da marabunta. Resolvemos o problema com uma mala grande, recheada de comida. Entre levar boxers e meias ou um carregamento de bolachas e leite de soja, não há margem para grandes hesitações. As noitadas no quarto do hotel estão asseguradas. Na mochila, mandei mini-pizzas, folhados de salsicha, pães-de-leite com chourição e meio bolo de iogurte. Na esperança que desse para aguentar a viagem de quatro horas até Paris. Parece que deu, apesar de a camioneta ter avariado a meio do caminho. Nada como ser previdente. Quando passar o tal mês a fazer o InterRail, é que não sei como vai ser…

2 comentários:

  1. Não há nada mais reconfortante do que nacional desenrascanço tuga!

    E o bom do farnel na mala :)

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  2. O farnel... há tanto tempo que não "ouvia" essa palavra, Naná! Mas é mesmo isso... ;)

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