(tão quente quanto possível, tendo em conta que estamos na Bélgica)
Acho
que já aqui disse muitas vezes o quanto adoro a escola do meu filho Vasco.
Gosto do rigor que põe nos estudos e no comportamento. Dos valores que
transmite. Da mistura de idades. Gosto do facto de haver duas professoras nas
turmas com mais de 20 meninos. Juntamente com os professores de Educação
Física, Natação e Inglês. Gosto dos recreios grandes, com muitos brinquedos
espalhados, onde os miúdos são deixados em liberdade. Onde há cestos de fruta e
vegetais da época, já lavados e descascados, à discrição. Gosto de ver a
directora diariamente à porta para nos receber, que nos cumprimenta a todos
pelo nome (e elogia o meu amor quando ele faz a barba).
Mas
há uma coisa que eu não suporto. Nem sequer posso dizer que seja um problema
específico desta escola, porque faz parte daqueles belgicismos que me dão cabo
dos nervos. Acho que as pessoas já estão tão habituadas ao clima implacável,
que se tornaram cegas às regras básicas de bom senso. Este Inverno, fartei-me de ralhar com o Vasco à saída da
escola. Dei com ele muitas vezes à chuva, a jogar à bola. E não era uma chuva
molha-tolos… era mesmo uma chuvada forte. Também o apanhei imensas vezes a
brincar na neve, gelado até aos ossos. Com a roupa completamente ensopada.
Evidentemente, isto passou-se à vista de toda a gente: directora, professoras,
auxiliares, educadoras dos ATL. Mas, por mais que eu pedisse na escola para não
o deixarem brincar na rua no meio da intempérie, ninguém me ligava nenhuma. Para
esta gente é normalíssimo… o meu pedido é que era estranho. Descobri, então,
que os miúdos se despiam na sala e punham a roupa molhada a secar nos
aquecedores enquanto tinham aula. Pelo menos, ficou explicado o mistério das
meias desaparecidas na escola.
Algures
em Fevereiro, zanguei-me mesmo a sério. Foi um dos poucos dias em que o Vasco
teve de ficar uma hora no ATL, até às 17h. Quando o fui buscar estava todo vermelho,
queimado da neve. Molhado literalmente dos pés à cabeça, desde o intervalo da
hora do almoço. O casaco estava ensopado, as luvas e o gorro perdidos em parte
incerta, para não variar. As botas escorriam água. A roupa estava colada ao
corpo… até os boxers estavam
encharcados. Nessa tarde, já não foi ao solfejo. Tivemos de despi-lo a custo e
metê-lo rapidamente na banheira com água bem quente. As extremidades já estavam
completamente roxas. Ficámos imenso tempo, um de cada lado, a massajar-lhe os
pés e as mãos inchadas até a circulação voltar à normalidade. Admito que, se
não fosse a calma do meu amor, eu teria pegado no miúdo e teria ido às
urgências. Nunca tinha visto nada assim. Jurava que ele ia apanhar uma
pneumonia. Milagrosamente, as únicas sequelas deste incidente foram duas
palmadas bem assentes no rabo gelado. Vaso ruim não quebra, é o que é. No dia
seguinte, à saída da escola, fui falar com toda a gente. Toda, mesmo. E avisei
que da próxima vez que eu encontrasse o Vasco naquele estado, sem que me
tivessem telefonado a avisar, iria haver consequências. A professora pediu-me,
então, que mandasse uma muda de roupa todos os dias. Duas… talvez fosse melhor
mandar duas mudas de roupa. Mais umas botas da neve para os recreios e uns
chinelos para estar na sala. A partir daí, continuou a brincar à chuva e na
neve à vontade, mas, pelo menos, nunca mais me chegou a casa ensopado, porque
entretanto mudava de roupa. Claro que isto fez com que perdesse muito mais
roupa do que o habitual, mas pronto…
Não
insisti mais com a escola, percebi que há guerras que não vale a pena comprar.
Tive de aprender a vencer pequenas batalhas essenciais à minha sanidade mental,
como mandar as tais mudas de roupa extra. No final do Inverno, ainda tive de
ouvir a professora dizer que o Vasco foi dos poucos miúdos que nunca faltou um
único dia por estar doente. Que nem sequer uma simples constipação ou tosse
apanhou. Engoli em seco, concordei com um sorriso forçado e pensei cá para
comigo… “Não perdes pela demora!” E, agora, finalmente está na altura de me
vingar daqueles meses de inferno gelado. Dizem que a vingança é um prato que se
serve frio mas, neste caso, é um prato que se serve quente. Muito quente. As
temperaturas por aqui já atingiram os 25º, é a canícula para esta gente. Mal o
termómetro sobe um bocadinho, fica tudo histérico. Imperam as instruções
rigorosas para sobreviver ao calor: t-shirts claras, cabeças protegidas por
chapéus ou bonés, protector solar, uma garrafa de água para evitar a
desidratação. Já sei que, mais cedo ou mais tarde, alguém há-de reclamar porque
o Vasco não leva uma garrafinha de água, nem usa boné… Mas eu estou-me
borrifando para a histeria colectiva. E juro que, nesse momento, vou mandá-los
a todos pastar. Tantos cuidados com o sol quando estão apenas 25º?! Ah, ah, ah,
ah! O meu filho há-de levar boné para a escola (para o perder, bem entendido),
no dia em que fizerem 35º nesta terra! Ou seja… hum… nunca!
hahahaha! Parti o coco. Histéricos, pá :)
ResponderEliminarUma amiga brasileira disse-me que, no outro lado do Atlântico, pensavam o mesmo de nós em relação à histeria de andar sempre a proteger a cabeça dos miúdos do sol no Verão... ;)
ResponderEliminarPois eu vejo histéricos por todos os lados. O que faz adoecer são as bichoses, não é o frio nem o calor. Mas ficava possessa por terem o AC a 17º C no Verão, nos EUA e deixarem as crianças babadas sem poderem usar babete, isso sim. Aqui, já estou tão cansada de lutar contra o vício do chapéu. Os miúdos precisam de apanhar sol no toutiço, pá. Se está demasiado sol para o toutiço, está demasiado para o resto.
ResponderEliminar(e é claro que não capitulo lá porque estou em casa com o Diogo, cheio de febre depois de ter brincado ao sol no Domingo)
Eu também acredito nas bichoses, como tu dizes... felizmente as temperaturas negativas tendem a congelá-las! (alguma vantagem tinha de haver por vivermos na Terra do Frio) Força nessa luta contra a brigada do boné, Gralha! :)
EliminarMães tortas como tu e eu é o que se quer!
ResponderEliminarEu saltar-me-ia a real tampinha se encontrasse o meu filho nesse estado!
Quanto ao boné sou apologista, porque ainda me lembro de ter apanhado uma real gripe em miúda, que me deixou de cama uns 5 dias, por conta de ter estado uma tarde inteira a lagartar ao sol sem chapéu!
Ah, ah, ah! O problema é que os belgas não estão habituados a lidar com mães tortas, Naná!
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