(Onde se corre as capelinhas todas e ainda fica tanto por
ver...)
No
fim-de-semana passado foi um fartar, vilanagem. Todos os anos, as diferentes
câmaras da Valónia fazem um “Fim-de-semana portas abertas” durante a Primavera.
O objectivo é dar a conhecer a região aos turistas, mas igualmente aos próprios
habitantes do concelho. Em Vielsalm, havia cerca de sessenta actividades gratuitas
possíveis e nós quisemos aproveitar ao máximo. Não parámos durante dois dias,
de manhã à noite, a fazer literalmente de turistas em casa.
Começámos
por visitar o castelo de Farnières, logo no Sábado de manhã, cujos jardins têm
um arboretum de rara beleza.
Após
andarmos uns largos quilómetros no meio dos bosques, chegámos ao novo percurso
de cordas nas árvores. Felizmente, nenhum dos miúdos quis experimentar, porque
aquilo era mesmo muitoooo lá em cima.
A
seguir, fomos conhecer um senhor que constrói hotéis para insectos. O Vasco e
eu já tínhamos reparado nestas pequenas estruturas de madeira que estão
espalhadas um pouco por toda a parte no concelho e estávamos curiosos. Cada
brincadeira daquelas custa uma pequena fortuna, pelo que decidimos tentar construir
nós mesmos um hotel para abrigar as abelhas que temos no quintal.
Acabámos
o dia no Centro Europeu do Cavalo, o ponto alto deste fim-de-semana. Acho que
nenhum de nós estava preparado para o que nos esperava. Pensávamos que íamos
ver demonstrações de cavalos ou coisa que o valha. O que já não seria nada mau,
tendo em conta paixão que a tribo nutre por estes animais. Mas este não é exactamente
um centro equestre onde se dão simples aulas de equitação. Trata-se do maior
centro europeu de estudo e reprodução de diferentes raças de cavalos, bem como
de desenvolvimento das diversas profissões do mundo equestre.
A visita
começou com uma apresentação das diferentes valências do centro. Seguiu-se uma demonstração
de um cavalo de trabalho das Ardenas que, obedecendo apenas aos comandos da
voz, transportava troncos enormes. Depois, assistimos à apresentação do
trabalho de um ferreiro, igualmente interessante. Tivemos ainda oportunidade de
assistir ao treino de um cavalo no tapete para estudar diferentes parâmetros. A
tecnologia de ponta para melhorar a performance e a qualidade de vida destes animais nos dias de hoje é absolutamente
fascinante.
No final, fomos visitar o centro de reprodução. Quando nos disseram
a rir que o cavalo de trabalho que tinha feito todas as demonstrações da tarde ia
finalmente ter a sua “recompensa”, eu vi logo a minha vida a andar para trás.
Para ajudar à festa, no grupo de visitantes estava uma velhota dos seus setenta
anos que não tinha vergonha nenhuma de fazer as perguntas mais mirabolantes possíveis.
Eu não sabia bem como explicar ao Vasco o que se ia seguir. O Diogo ria-se à
parva, o meu amor arregalava os olhos cada vez que a velhota abria a boca e eu…
eu tentava explicar rapidamente os factos da vida à coisa pequena, no intuito
de o preparar rapidamente para a versão hardcore da reprodução equina. Como o próprio veterinário explicou, aquilo
entrava claramente no âmbito da pornografia para cavalos. Resumindo, assistimos
à preparação do frasco para estimulação e recolha do esperma do animal (sendo
que a velhota aproveitou para fazer várias perguntas sobre preservativos
equestres), à preparação do “manequim” (que a velhota não achou lá muito
estimulante, mas que pareceu agradar de imediato ao “cliente” em questão),
contemplámos a cena pornográfica propriamente dita (que deixou a velhota
espantadíssima pela evidente satisfação equina) e, por fim, à recolha do esperma
que acabou por ser deitado fora, porque não ia ser utilizado (provocando a
pertinente pergunta se “aquilo” era biodegradável). A coisa pequena não estava
a perceber lá muito bem o que se passava, mas é de reconhecer que as minhas
explicações improvisadas e atabalhoadas não foram as melhores. Quando, no dia a
seguir, nos falou do “corante branco” que tinha ficado dentro do frasco,
percebi que se impunha uma conversa séria sobre sexualidade. A verdade é que o
Vasco nunca pareceu muito interessado neste assunto, portanto fui adiando uma
primeira conversa. Infelizmente, as crianças da cidade não compreendem os
factos da vida ao contemplarem os animaizinhos em plena acção…
No
dia seguinte, levantámo-nos bem cedo para ver se conseguíamos visitar o máximo
de sítios possível. Como o Diogo tem andado com dores num pé nos últimos
tempos, decidimos deixá-lo descansar. No Domingo, começámos por visitar uma
torre bastante bem conservada, que há meses nos chamava a atenção. Afinal,
trata-se de uma geladaria do século XIX.
Seguiu-se
uma visita a uma quinta que vende produtos biológicos, onde eu nunca tinha
ousado entrar porque pensava que tudo seria excessivamente caro… não podia
estar mais enganada. Por pouco, não saíamos de lá com uma cabrinha debaixo do
braço (viva e de boa saúde, bem entendido). No recinto da quinta, havia uma
exposição de vários pequenos produtores e artesãos que vendem os seus artigos
na lojinha da quinta. Foi muito interessante falar com dois jovens que “cultivam”
trutas, um belga meio hippie que criou uma cadeia sustentável de cultivo e
importação de café e uma artesã espanhola que só trabalha com lã biológica. À saída,
recebi uma catapulta de mensagens do meu filho crescido: “Onde estão todos?”/ “Acordei e não
vi ninguém”/ “O que posso comer?”. Decidimos, então, fazer uma paragem em casa para
almoçar a truta fumada, o pão biológico e os queijos de cabra que tínhamos acabado
de comprar.
À
tarde, visitámos o Musée de la coticule,
uma espécie de pedra de amolar típica desta região formada por xisto com mais
de 480 milhões de anos, reputada pela sua eficácia e longevidade. A
indústria da extracção da coticule teve início no século XVI e museu, constituído em parte por um verdadeiro atelier, parece datar dessa época. Mas
acabou por ser engraçado visitar um museu que é um museu em si mesmo,
como uma espécie de palimpsesto. Estávamos nós a pensar em como é muito mais
atraente para os miúdos desta geração visitar museus modernos e interactivos,
quando as máquinas todas do atelier começaram de repente a trabalhar sozinhas,
como que por magia. E aí, sim, a visita ficou imbatível e o Vasco riu à
gargalhada.
No final do dia, já exaustos, fomos conhecer uma loja nova que abriu aqui perto dedicada exclusivamente à indústria do mel. O proprietário andava por lá a mostrar as colmeias e ficou embevecido com os conhecimentos enciclopédicos sobre abelhas que nós não fazíamos ideia que o filho pequeno tinha. Resultado: tivemos direito a pegar nas abelhas, a provar mel morninho acabado de tirar da colmeia, mexer na cera e experimentar todo o tipo de produtos feitos com mel que a mulher do proprietário se lembrou de inventar especialmente para aquele dia… merengues de mel, chupa-chupas de mel e gelado de mel.
Ficou
tanta coisa por ver! Ficámos com a sensação de que passámos o fim-de-semana a
correr e fizemos uma ínfima parte das actividades disponíveis. O que vale é que
para o ano há mais… :D
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