(onde
uma simples fotografia nos leva a recantos perdidos da memória)
Passei
a minha primeira gravidez indecisa quanto ao nome do bebé. Para simplificar,
decidi chamar-lhe Pinguim. Quando a obstetra ia começar a cesariana de
urgência, anunciaram na rádio que Gustavo Kuerten, mais conhecido por Guga, ia
iniciar naquele momento a sua primeira final de Roland Garros. Lembro-me de ter
pensado: “Ora aqui está mais um que também deve estar em sofrimento!” Não
tenho outras memórias daqueles longos minutos. Recordo que o meu filho nasceu
ao som de 125 Azul dos Trovante,
grupo que marcou a minha adolescência que findava naquele instante. E que não
chorou, começando de imediato a respirar com aqueles seus olhos imensos postos no
mundo. Eu chorei. A minha obstetra também. Quando a cesariana estava mesmo a terminar,
anunciaram na rádio que o Guga tinha acabado de ganhar o torneio. Eu ri-me e
disse: “Que coincidência tão engraçada… Vou chamar-lhe Guga!” A minha obstetra,
que tinha passado nove meses assustada com os nomes que eu ia inventando, respondeu
aflita: “Mas o menino não se ia chamar Diogo?!” Ficou Diogo, claro. Mas para
mim, até hoje, é o Guga.
Na
gravidez seguinte, a indecisão quanto ao novo nome manteve-se. Portanto, voltei
ao Pinguim. Infelizmente, a segunda cesariana de urgência conseguiu ser ainda
mais urgente do que a primeira. Só me lembro do rio de sangue que caía, dos
gritos do obstetra e de uma mancha arroxeada silenciosa que passou rapidamente
por mim. Não houve música, não houve lágrimas de emoção, não houve
coincidências. Pensei sinceramente que fosse morrer ali. Uma hora depois,
encontrámo-nos. Ambos ainda despidos, combalidos, numa maca. O Vasco, com toda
a naturalidade, começou a mamar mal o encostaram a mim. Entretive-me a namorar
aquele ser estranho, minúsculo, coberto por um espesso manto de pêlos que lhe descia
pelas costas abaixo. Quando a minha obstetra finalmente chegou, foi ver-nos. “Estão
os dois bem, que susto! Deixa cá ver o Pinguim...”. Ri-me e disse-lhe que
afinal era um lobo, já vinha protegido para o Inverno. Ficou Lobito.
Entretanto, começou a falar. E até muito tarde, quando lhe perguntavam como se
chamava, respondia sempre muito compenetrado: “Bebé Bá”. Bá de Basco, pois claro. E, assim, passou também a ser o Bá.
Até que o meu amor entrou nas nossas vidas e o Vasco ganhou mais um petit nom... coisa pequena.
O tempo está a passar demasiado depressa...
O Guga agora é um adolescente sério e o Bá deixou de ser o meu bebé.
Bom, nós também temos um Guga e um Diogo lá em casa, mas são duas pessoas diferentes ;)
ResponderEliminarSão de certeza duas pessoas diferentes igualmente maravilhosas... com esses nomes, só pode! ;)
ResponderEliminarÓ Paula, quando é que regressas lá ao teu boteco que a malta já está com saudades?
ResponderEliminarBem... nós devemos ser almas gémeas de "parto" se isso existe... com pequenas variações, os meus partos foram semelhantes aos teus.
ResponderEliminarPor cá também há petit noms... o mais velho é "caluxo" e o mais novo é "cachucho", se bem que eu por vezes dá-me para lhe chamar "Babouche"... vá-se lá saber!
Só espero que isto nunca venha a ficar-lhes agarrado e vire alcunha... é que tive um amigo na infância que ainda hoje todos tratam por Cocas, porque era o petit nom que a mãe lhe dava. Quando a malta da vizinhança soube, pimbas, colou!
Caluxo e Cachucho, Naná?! E eu que achava que os petits noms dos meus já eram estranhos... Viva a imaginação das mães! ;)
ResponderEliminar