quinta-feira, 26 de maio de 2016

Gente maluca é pior que ladrões

(uma tragicomédia em seis actos)


 


Acto I
Esta manhã, os rapazes anunciam que têm exame de solfejo. Quer dizer, o anúncio foi feito pelo Diogo, que a coisa pequena anda sempre a Leste (pensava eu que era o único). Peço o “journal de classe” para verificar as horas… infelizmente, a última página está em branco. O Vasco teve consulta de ortodontia em Liège e faltou à última aula. 

Acto II
Mando uma mensagem à professora a justificar a ausência da aula anterior e a perguntar a que horas é o exame de HOJE do Vasco. Responde-me que é às 17h30, sendo que o Vasco passa em 7º lugar. Faço contas por alto… provavelmente, não haverá tempo para a aula de violino. Volto a mandar mensagem a agradecer a informação e a perguntar se há aula de violino a seguir. Recebo um lacónico “não” com resposta. 

Acto II
Vou buscar o Vasco à escola ao meio-dia e dou-lhe um raspanete porque ainda não estudou nada para o exame de solfejo. Coisa pequena almoça calmamente e, a seguir, estuda rapidamente. O meu amor apanha-o a brincar no quintal, dá-lhe novo raspanete e tranca-se com ele no quarto a estudar as partituras. 

Acto IV
O Diogo vai fazer o seu exame às 16h30 e manda-nos uma mensagem a dizer que afinal há aulas, não exames. Mando uma nova mensagem à professora a perguntar se o Vasco devia ter ido à aula de solfejo, anterior ao suposto exame do Diogo… e ela responde-me com outro lacónico “sim”. E aí eu perco a paciência. Mando uma última mensagem: “Perguntei-lhe esta manhã se o Vasco tinha exame se solfejo hoje e a senhora disse-me que sim, às 17h30!!! E, afinal, ele acabou por faltar à última aula de solfejo!!!”. Não obtive resposta. 

Acto V
Contrariamente a mim, os meus filhos tiveram resposta… Em plena aula, a professora lê a mensagem e, olhando para o Diogo, diz que está a ser insultada… logo agora, no final do ano, mesmo antes dos exames. E deixa a ameaça a pairar no ar. A seguir, quando o Vasco entra na aula de violino para onde foi levado à pressa, diz-lhe que ele é que está em falta porque não foi à aula de solfejo, que se a mamã quer ralhar e insultar alguém, que o faça com ele… não com ela, que não está para essas coisas. 

Acto VI
Hesitei entre ir lá directamente ou ligar-lhe a pedir explicações. Acabei por deixar falar a Rita belga e fiquei quietinha no meu canto. Enfim… é como quem diz. Belga, mas pouco. Amanhã tenciono ligar ao director da Académie a fazer queixa. E aproveito para lhe dizer tudo o que tenho aqui guardado há dois anos sobre aquele portento de pedagogia, que nunca se dignou a fazer um único elogio ao Vasco. Como se fosse possível evoluir na crítica cerrada! Entretanto, revirei a Net do avesso à procura de uma professora em Liège que aceitasse ajudar a coisa pequena na próxima semana a preparar as duas partições que tem de tocar no exame de violino. Não vá aquele estafermo lembrar-se de aproveitar para me chumbar airosamente o filho… Como dizia a minha avó Clarisse, gente maluca é pior que ladrões. Credo!

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