terça-feira, 17 de maio de 2016

Psicologia positiva


(porque isto resulta tão bem que nem é preciso aplicar)




Ontem à noite, vimos um documentário no telejornal sobre psicologia positiva. Mais concretamente, sobre psicologia positiva aplicada às crianças. No final, mostravam o exemplo concreto de uma mãe que andava um bocado perdida e que tinha ido fazer um workshop, para ver se aprendia estratégias educativas mais eficazes do que os gritos. Nesse momento, os olhares centraram-se em mim. Ouvi uns risinhos. Não acusei o toque e continuei a ver a emissão com muitaaaa atenção. Vimos a mãe cansada, depois de um dia de trabalho, a chegar a casa. E o ar enfastiado com que reparou de imediato que as luzes estavam todas acesas, apesar de o sol ainda ir alto. Chamou os filhos, reuniu-os à volta da mesa e começou calmamente a debater estratagemas para resolverem o problema, que ia apontando num papel. “E se eu disser “luz, luz, luz!”, sempre vir a luz acesa?”  “E se pusermos um lembrete por cima do interruptor?”  “E se…” A conversa durou séculos e, sinceramente, os miúdos não pareciam lá muito motivados a mudar o comportamento. Por fim, lá definiram um conjunto de regras. Obviamente, o documentário não mostrou como tinha acabado o conflito familiar, preferindo terminar com a imagem da mãe com um sorriso beático. Não quero ser maldizente, mas algo me diz que mal o efeito do Xanax passar se põe a berrar com a canalha novamente.
Quando a emissão terminou, disse aos rapazes que também ia começar a pôr em prática a tal da psicologia positiva nesta casa. Com efeitos imediatos. Que admitia que tinha tendência para gritar e que tinha mesmo de melhorar. Que, a partir de agora, seria uma mãe muito mais calma e positiva. Claramente pedagógica. Quiseram que lhes desse um exemplo.

- Sempre que o Diogo se voltar a demorar 25 minutos no duche e, depois, se esquecer de abrir a janela, vamos passar outros 25 minutos num longo debate sobre a problemática. Ele exporá as suas ideias e eu, as minhas. No fim, delinearemos possíveis soluções. Poderei passar a dizer “duche, duche, duche” ou pôr um post-it na janela, por exemplo…

- Quando o Vasco perder novamente a lancheira, rasgar as calças, partir as canetas, estragar um jogo ou se esquecer do dinheiro para a piscina, podermos passar meia hora em profundas reflexões para tentarmos democraticamente encontrar a melhor maneira de inverter a situação.

Surpreendentemente, a minha sugestão não lhes agradou. Disseram que preferiam os gritos. Parece que é mais rápido e chateia menos. Anda aqui uma mãe a tentar seguir uma linha educativa extremamente zen e positiva e os tipos preferem a pedagogia do berro e do calduço. Mas não me dei por vencida. Implementar novas medidas nunca foi popular. Mesmo que seja para bem do povo. Portanto, continuei noite fora… “Vasco, se continuas a comer como um porco, no final do jantar vamos ter de fazer uma reunião para perceber de que modo te posso ajudar positivamente a deixares de ser um javardo. Conta com menos 15 minutos de leitura antes de dormir, sim?”  “Diogo, se voltares a descer essas escadas como um elefante enraivecido, acho que se impõe uma longa conversa para tentarmos encontrar estratégias positivas para contrariar isso. Penso que nos conseguiremos despachar em 40 minutos, mas é melhor desligares o telemóvel”. E por aí fora…
Sabem que mais? Resulta mesmo! Quanto à psicologia positiva propriamente dita, não sei se funcionará. Ainda não tive oportunidade de experimentar. Mas a ideia subjacente é tão genial, que nunca chega a ser preciso aplicá-la. Basta ameaçar que vamos ser psicologicamente positivos para o comportamento dos miúdos mudar de imediato. Até agora, estou muito satisfeita com os resultados. Desde ontem que não se ouve um grito nesta casa. Eu ando muito mais calma, mas os rapazes parecem mais enervados. Não percebo porquê, sinceramente. Parece que o positivismo lhes anda a fazer mal. Talvez seja melhor ir buscar uma folha de papel e lápis coloridos para delinearmos em conjunto estratégias motivantes para incrementar a felicidade infantil nesta casa. Temos de pensar em frases motivadoras. Espalhar uns mantras escritos pelas paredes. Tenho de falar urgentemente com eles… urgentemente, não. Lá se me ia o mindfulness para o galheiro! Tenho de falar calmamente com eles.

4 comentários:

  1. Ah ah ah!E não me estou a rir alto e à bruta, é um riso sereno e comedido...Gostava de me ter lembrado dos posts no espelho da casa de banho mas sei que o tempo debaixo de água diminuíu drasticamente quando a factura da água foi descontada na continha pessoal do banco...

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    1. Pois... essa é uma medida muito eficaz, Mariana! Infelizmente, a conta da água por aqui é tão cara que o Diogo não tem dinheiro suficiente na conta para a pagar. Quanto ao outro, eu é que já estou capaz de lhe pagar para ele se meter na banheira. Anda na fase porca... ;)

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  2. Ahahahahahahahahaha! Vou experimentar a tua técnica.

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    1. Experimenta que vais ver que resulta! E algo me diz que resulta muito melhor com rapazes do que com raparigas. Eles costumam ser mais dados à acção do que à reflexão!

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