(porque me tinha esquecido de vos contar esta,
que merece ficar para os anais da história familiar)
Na
sexta-feira passada, zanguei-me a sério com o Diogo. Não foi nada de muito
grave. A semana tinha sido longa. Tinha trabalhado, dado aulas, traduzido…
estava exausta. No Verão, anoitece tarde na Bélgica. Estava um dia bonito e
quente. Depois do jantar, propus irmos todos dar a volta ao lago. Normalmente,
é o nosso momento a dois. Os nossos 2,5 km de sossego. Mas estava a apetecer-me
estar com os miúdos, falar, ouvir os risos deles…
Para
não variar, o adolescente reagiu mal à proposta. Resmunga sempre que vamos
fazer um programa qualquer, um passeio, uma ida ao cinema ou até mesmo ao
restaurante. Raça do miúdo só está bem enfiado em casa! Quando o obrigamos, faz
aquele ar de juvenil enfado e arrasta os pés. Aos poucos, vai desanuviando e
esquece-se de manter a compostura. Deve dar uma trabalheira desgraçada fingir
aborrecimento e obrigação durante muito tempo. Acaba sempre a rir, divertido.
E, no fim, agradece invariavelmente e admite que fizemos bem em forçá-lo a vir
connosco. Já há muito que deixámos de ligar ao arranque tumultuoso, preferindo
concentrar-nos na chegada entusiasta.
Na
sexta-feira passada, ao anúncio do passeio, seguiu-se o fado habitual. Como não
podia deixar de ser. Só que eu estava demasiado cansada para conseguir reagir
com a fleuma necessária. E o Diogo arriscou a bater o pezinho no chão, como um
miúdo birrento. Foi a gota de água. Gritei-lhe que estava farta daquela atitude
malcriada e que já não queria a sua presença no passeio familiar, que se
pretendia aprazível para todos. Mandei-o para o quarto de castigo. E
acrescentei que, já que só parecia sentir-se bem ali, não podia sair do quarto
até terça-feira de manhã, quando voltasse para a escola.
No
sábado, foi cada um à sua vida. O Diogo dormia. O meu amor saiu cedo para ir
“dronar”. Eu fui com o Vasco ao ballet. Depois, fomos comprar um novo par de
ténis… coisa pequena não cresce para cima, mas está a ficar com umas patorras
enormes. Entretanto, deu-nos a fome. Cometemos a loucura do mês e fomos comer
umas frites, que nos souberam pela vida. Apeteceu-nos ir ao cinema. Fomos
espreitar as sessões de Malmedy, nada. Fomos até Stavelot, nada. Desiludidos,
decidimos voltar para casa. Chegámos por volta das quatro da tarde. Não se
ouvia vivalma. Enfiei os fones e fui traduzir. O Vasco foi brincar lá para cima
com o irmão. Perto das seis, veio perguntar-me se podia levar-lhe o DVD do Criminal
Minds. E comida… Hein?! Lá me explicou que, como o irmão estava de castigo no
quarto até terça-feira, queria ajudá-lo a sentir-se melhor.
Mandei
chamar o queixoso para ouvir de sua justiça. Pediu-me desculpa pela malcriação
da noite anterior. E explicou-me que tinha levado o castigo muito a sério.
Ainda só tinha saído do quarto para comer qualquer coisa à pressa de manhã. “E
o almoço?!” “Não almocei.” “E foste à casa de banho?!” “Muito
depressa, só quando saí de manhã para comer.” “Mas és parvo ou
quê?!” “Disseste que não podia sair do quarto até terça-feira…” “Já
ouviste falar em linguagem metafórica?!” “Não percebi.” “Queria
dizer que ias ficar em casa de castigo durante o fim-de-semana prolongado,
porque não voltava a obrigar-te a sair. Estou farta das tuas cenas!”
“Ahhh… mas isso não é bem um castigo, pois não?” “E tu não achaste que o
outro castigo era um bocadinho excessivo?!” “Mais ou menos.”
“Por acaso ando a educar-te para aceitares as maiores idiotices sem
argumentar, mesmo vindas de mim?” “Não podia argumentar sem sair do
quarto…”
Ia
morrendo, a sério. Não sabia se havia de rir ou chorar. Este palerma vai fazer
15 anos, mas por vezes mais parecem 5. Se o irmão não decidisse salvá-lo, era
capaz de morrer até terça-feira para não desobedecer ao castigo. Nunca vi um
espírito contestatário tão mal aplicado, benza-o Deus!
ahahaha!! muito bom! <3
ResponderEliminarHá idades mesmo estúpidas, não é?! :)
Eliminar" Por acaso ando a educar-te para aceitares as maiores idiotices sem argumentar, mesmo vindas de mim?": muito bom!!! Mas é muita dialética para a cabeça de um adolescente...Devia ser por isso que, no antigamente, se dava uma chapada e não havia cá conversa! Também ninguém era educado para refutar as decisões dos mais velhos...Bom fim de semana, Rita! Beijinhos
ResponderEliminarNo outro dia, também se virou para mim e disse:"Mas porque é que não me dás um estalo e acabas com isto?!" Por "isto" subentenda-se o sermão... ih, ih, ih! ;)
EliminarLá está a "carga" de muitas gerações que ficaram lá para trás mas que estão na genética do Diogo : a mãe quer ser moderna, mudar a o tipo de relação com os infantes e vai o primogénito preferir o movimento da mão em detrimento de uma conversa pedagógica...Lol, como se dizia há uns tempos!
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