segunda-feira, 11 de julho de 2016

Exame de consciência


(porque antes de acusarmos os outros,

é sempre bom olhar para o seu próprio umbigo)



Sabemos que algo de estranho se passa quando recebemos esta madrugada uma mensagem do Belga a dar-nos os parabéns pela vitória de Portugal. Estou desconfiada que ele nem sabe quantos jogadores há em campo. Parece que lá nos confins de Itália a malta estava a torcer por nós e acabou a festejar com pompa e circunstância. Não sou especialmente patriota e detesto futebol (apesar de saber que há 17 jogadores em campo… :p). Mas parece-me que esta vitória foi uma espécie de catarse para uma certa Europa subjugada pela hegemonia de uma outra. Foi bonito de ver que os vizinhos estavam por Portugal, que os amigos do Diogo estavam por Portugal, que a nossa família belga (apesar de incluir um francês) estava por Portugal. Somos um país simpático que tem essa capacidade de ser facilmente “adoptável”. Algo de bom devemos andar a fazer por esse mundo fora há nove séculos. Só tenho pena que daqui por uns dias, quando a euforia passar, os emigrantes portugueses voltem a ser vistos pela pátria-mãe como ratos que abandonam o navio. E que o Ronaldo volte a ser tido como um emigrante de primeira e a concierge de Paris uma emigrante de segunda… É que antes de acusarmos os outros de racismo e xenofobia, talvez devêssemos pensar na forma como nós próprios olhamos para as nossas comunidades emigradas.

2 comentários:

  1. Desta vez não concordo completamente com o seu post...Sigo o futebol porque o meu pai era louco pelo Benfica, a minha filha e o meu marido loucos pelo Sporting! Não vou a estádios e sou uma "mera" seguidora do clube da Luz. Mas a festa de ontem foi de arrepiar: nas nossas casas, no que víamos no estádio, no que a televisão nos mostrava, no descobrir adeptos ferrenhos da selecção sendo crianças e conhecendo Portugal apenas pelo que os pais falam em casa e por um mês de férias lá bas...E isso pôs-nos mais em sintonia com os emigrantes que, de todo o mundo vieram a França, do que todos os discursos do 10 de Junho! E isso não pode desaparecer de um dia para o outro...E Portugal, ainda que hoje mesmo venha a conhecer sanções duras sempre para os mesmos, precisava de sair à rua para hastear bandeiras em família, saltar ombro a ombro com desconhecidos, fazer coreografias inventadas à pressão...E foi bonita a festa, Rita! Eu sei porque estive numa delas, sem nunca acreditar que iria estrear-me nessas lides, daí as baterias do telemóvel e da máquina fotográfica em baixo! Se voltaremos a ridicularizar os "avecs" ou a criticar quem parte porque o seu país não "ata nem desata"? Talvez...mas tivemos um anseio comum a milhões e redescobrimos heróis como um Ronaldo, tanta vez considerado um emigrante pedante (mais uma vez) e agora o jogador de excelência que se revela como um líder 5 estrelas! Uma boa semana pour vous...

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    1. Mas eu nunca disse mal do futebol, nem das celebrações que aconteceram mundo fora para festejar a vitória de Portugal, Mariana. Limitei-me a desejar que essa maneira de encarar a emigração não fosse apenas fogo de vista... E nem falo por mim, mas por tantos outros portugueses sem estudos que fazem trabalhos menores que lhes permitem ter um nível de vida superior fora do país. Essa é a emigração mais enxovalhada. Emigrantes com estudos superiores que têm trabalhos em pé de igualdade aos "nativos" são mais bem tratados. E parece-me que isso não é justo.
      Beijinho.

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