(onde não há longe, nem distância)
A
seguir ao Borges e ao Eco, a primeira afinidade que surgiu entre o meu amor e
eu foi a paixão pelos países nórdicos. Com uma ligeira diferença. Enquanto eu
me limitei a sonhar (e a ter filhos, vá…), ele aprendeu a falar norueguês e pôs-se
a caminho. Islândia, Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia… visitou-as todas
por diversas vezes, ao longo dos anos. A sua especialidade académica é o mar do
Norte. Dos nossos primeiros tempos, recordo as longas conversas sobre “O Norte”.
Quer dizer, não eram bem conversas… Eram uma espécie de questionários sedentos
de informação aos quais ele tentava responder divertido. Eu limitava-me a
suspirar. Dizia que o Norte era muito longe. Demasiado longe. Inalcançável. Ele
contra-atacava, dizendo que era uma questão de perspectiva.
Acho
que temos sempre algo a aprender com as pessoas que cruzam a nossa vida. Com o
meu amor aprendi que é tudo uma questão de perspectiva. Não há longe, nem
distância. Aos poucos, as coisas fazem-se, pura e simplesmente porque
acreditamos que são possíveis. No ano passado, atravessámos meio Marrocos,
outra das minhas antigas paixões. Este ano, rumámos a Norte. Afinal, não tinha
nada de complicado. A barreira estava na minha cabeça, que murmurava que eram
destinos demasiado longínquos para a minha pequena pessoa. Demasiado caros. Mas
há sempre maneira de dar a volta ao texto. Sempre.
O
Norte não desiludiu, apesar das expectativas elevadíssimas. Estivemos em
Copenhaga, na Dinamarca, e em Malmo, na Suécia. Não sou de experiências
místicas, devo ser das pessoas mais terra-a-terra que conheço. Não acredito em
nada. Mas houve ali qualquer coisa. Um sentimento de ter chegado a casa. De
apaziguamento. De que ali podia ser feliz. Uma sensação de bem-estar. De correspondência.
Gostei muito, muito, muito.
Gostei
das cidades, da organização dos espaços, da arquitectura, dos monumentos. Das
cores. Do mar ao longe, dos rios e dos canais. Da água omnipresente. Gostei da
preocupação com a ecologia que vê um pouco por todo o lado. Gostei dos imensos espaços
verdes gratuitos que cortam a frieza citadina. Gostei da gastronomia, da
generalização dos produtos biológicos em restaurantes e cafés. Gostei de ver crianças
com saquinhos de cenouras cruas e bebés a comer framboesas nos carrinhos. Gostei
das centenas de quilómetros de ciclovias, das escadarias com pequenos
escorregas para fazer deslizar as bicicletas, dos parques de estacionamento onde
quase ninguém se preocupava em pôr cadeados, dos lugares especiais nos transportes
públicos para prender as bicicletas. Gostei do ar descontraído dos nórdicos,
novos e velhos. Da boa onda. Da simpatia e dos sorrisos. Por várias vezes
perguntámos direcções e as pessoas activaram o GPS dos telemóveis para nos
mostrar o caminho. Gostei de ver uma sociedade onde a criança é rei, mas não
faz birras. Onde se vê gente pequena por todo o lado, vestida com aquele estilo
nórdico funcional e depurado. Sem lacinhos, rendinhas, nem merdinhas. Gostei da
sonoridade da língua, que não é assim tão estranha como imaginei. Gostei da vasta
rede de transportes públicos, acessíveis e rápidos. Onde há espaços consagrados
ao silêncio absoluto. Gostei de ter estado numa casa que parecia a minha, com
coisas de valor à vista, mas onde reinava a confiança.
Há
muito tempo que não me custava tanto dizer adeus a uma cidade. Copenhaga ficou-me
no coração. Tenho a certeza de que voltarei, provavelmente para atravessar de
comboio os diversos países nórdicos e ficar a conhecer paragens mais recônditas.
E vou certamente começar a prestar atenção a anúncios de emprego que por vezes aparecem
e que sempre pus de imediato de lado. Quem sabe onde a vida nos levará?
Se gostaste assim de Copenhaga e de Malmo, o que fará quando fores a Estocolmo, Oslo, Bergen... :)
ResponderEliminarSe calhar já não volto, Gralha! ♥ Mas a vantagem de Copenhaga sobre essas cidades todas é o clima mais temperado. Diz que o mínimo no Inverno são -5. É muitoooo quente, quando comparada com as Ardenas! :)
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