(onde se narra um périplo cansativo, se bebe uma bica
e se encontra uma solução para deixar de roer as unhas)
Levantámo-nos
muito cedo. Tão cedo que, quando chegámos à “Topographie des Terrors”, ainda
estava fechada. Demos uma volta pelo que resta do muro, falámos de história. Fomos
os primeiros a entrar. Em pouco tempo, a “Topographie des Terrors” estava cheia
de gente. Demasiada gente para o meu adolescente, que tem uma certa fobia de
espaços fechados e lotados. Apesar de tudo, aguentou estoicamente que eu lesse
todos os painéis explicativos. Ele ia lendo, aqui e ali, selectivamente.
Depois, preferiu sentar-se a ver os dossiers com fotografias da época. Eu não
fui capaz.
Quando
saímos, deu-lhe a fome… apesar do pequeno-almoço faustoso do hotel. Comeu e
seguimos viagem a pé até ao Museu dos Espiões. Há que intervalar visitas
culturais e cenas mais ao gosto juvenil. Pronto… admito que também gostei muito deste
museu. Sentimos falta da nossa coisa pequena, quando vimos toda uma
secção dedicada ao James Bond. O Vasco teria delirado.
A
seguir perdemo-nos e fomos parar ao “Berlim Mall”. A vantagem de viajar com o
filho grande é que ele é um bom companheiro para ver as lojas. E a zona da
restauração. Almoçámos, claro está. Ele comeu mais um gelado com um aspecto nojento.
Vistas bem as coisas, acho que o Diogo é demasiado bom companheiro… Passámos
horas ali dentro, já me doíam os pés e a alma. E a carteira, porque fomos
caçados por um senhor que tinha uns produtos mágicos para tratar das unhas e
das mãos. O adolescente ficou encantado. E eu tive de pagar pelo encanto, claro
está. Apaixonámo-nos por uma loja onde se podia fazer ursos de peluche de todos
os géneros e vesti-los. Voltámos a sentir saudades do Vasco, que teria adorado
as roupinhas do Batman.
Não
sei bem como, consegui convencer o adolescente a andar mais um bocado a pé até “Check
Point Charlie”. Tiramos fotografias parvas com os senhores. Bebi um café Delta
que me soube pela vida… uma bica verdadeira! E desencantámos um Photomaton à
antiga, onde tirámos umas fotografias a preto e branco fantásticas. Se a minha
mãe lhes põe os olhos em cima, nunca mais as vejo.
No
final da tarde, estávamos mortos. O Diogo reclamava comigo porque mal tínhamos
utilizado os bilhetes turísticos de transportes, andámos quase sempre a pé.
Parece que é mau ter uma coisa gratuita e não aproveitar. Fomos para o hotel
descansar. Aproveitámos para arranjar as unhas. Quer dizer, o adolescente
arranjou as dele e as minhas, que eu não sei fazer tal coisa. Escrevemos
postais, para grande espanto do filho grande. Lemos um bocado. Hum… eu li, ele meteu-se a fazer não sei
o quê no iCoiso. Comemos as sandes que tínhamos comprado no caminho, já a
imaginar que não teríamos forças para sair do hotel. E, depois, estava eu
pronta para me enfiar na cama, a marabunta despertou da sua letargia. Com fome,
pois claro. Voltei a calçar-me para calcorrear quilómetros atrás de um suposto sunday. Lá o consegui convencer de que o
anúncio que temos em frente ao hotel é um anúncio à McDonalds, não a um
restaurante específico. Contentou-se com um Ben & Jerry’s comprado a peso
de ouro num nightshop.
Pela
primeira vez desde há muitos anos, o Diogo ainda não voltou a roer as unhas. Apesar
do cansaço, estava capaz de voltar ao centro comercial para beijar o vendedor
que nos impingiu a lima mágica que tem garantia de 3 anos e só lhe falta deixar
os vidros a brilhar.
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