quarta-feira, 6 de julho de 2016

No segundo dia

(onde se narra um périplo cansativo, se bebe uma bica

e se encontra uma solução para deixar de roer as unhas)



Levantámo-nos muito cedo. Tão cedo que, quando chegámos à “Topographie des Terrors”, ainda estava fechada. Demos uma volta pelo que resta do muro, falámos de história. Fomos os primeiros a entrar. Em pouco tempo, a “Topographie des Terrors” estava cheia de gente. Demasiada gente para o meu adolescente, que tem uma certa fobia de espaços fechados e lotados. Apesar de tudo, aguentou estoicamente que eu lesse todos os painéis explicativos. Ele ia lendo, aqui e ali, selectivamente. Depois, preferiu sentar-se a ver os dossiers com fotografias da época. Eu não fui capaz.
Quando saímos, deu-lhe a fome… apesar do pequeno-almoço faustoso do hotel. Comeu e seguimos viagem a pé até ao Museu dos Espiões. Há que intervalar visitas culturais e cenas mais ao gosto juvenil. Pronto… admito que também gostei muito deste museu. Sentimos falta da nossa coisa pequena, quando vimos toda uma secção dedicada ao James Bond. O Vasco teria delirado.
A seguir perdemo-nos e fomos parar ao “Berlim Mall”. A vantagem de viajar com o filho grande é que ele é um bom companheiro para ver as lojas. E a zona da restauração. Almoçámos, claro está. Ele comeu mais um gelado com um aspecto nojento. Vistas bem as coisas, acho que o Diogo é demasiado bom companheiro… Passámos horas ali dentro, já me doíam os pés e a alma. E a carteira, porque fomos caçados por um senhor que tinha uns produtos mágicos para tratar das unhas e das mãos. O adolescente ficou encantado. E eu tive de pagar pelo encanto, claro está. Apaixonámo-nos por uma loja onde se podia fazer ursos de peluche de todos os géneros e vesti-los. Voltámos a sentir saudades do Vasco, que teria adorado as roupinhas do Batman.
Não sei bem como, consegui convencer o adolescente a andar mais um bocado a pé até “Check Point Charlie”. Tiramos fotografias parvas com os senhores. Bebi um café Delta que me soube pela vida… uma bica verdadeira! E desencantámos um Photomaton à antiga, onde tirámos umas fotografias a preto e branco fantásticas. Se a minha mãe lhes põe os olhos em cima, nunca mais as vejo.
No final da tarde, estávamos mortos. O Diogo reclamava comigo porque mal tínhamos utilizado os bilhetes turísticos de transportes, andámos quase sempre a pé. Parece que é mau ter uma coisa gratuita e não aproveitar. Fomos para o hotel descansar. Aproveitámos para arranjar as unhas. Quer dizer, o adolescente arranjou as dele e as minhas, que eu não sei fazer tal coisa. Escrevemos postais, para grande espanto do filho grande. Lemos um bocado. Hum… eu li, ele meteu-se a fazer não sei o quê no iCoiso. Comemos as sandes que tínhamos comprado no caminho, já a imaginar que não teríamos forças para sair do hotel. E, depois, estava eu pronta para me enfiar na cama, a marabunta despertou da sua letargia. Com fome, pois claro. Voltei a calçar-me para calcorrear quilómetros atrás de um suposto sunday. Lá o consegui convencer de que o anúncio que temos em frente ao hotel é um anúncio à McDonalds, não a um restaurante específico. Contentou-se com um Ben & Jerry’s comprado a peso de ouro num nightshop.
Pela primeira vez desde há muitos anos, o Diogo ainda não voltou a roer as unhas. Apesar do cansaço, estava capaz de voltar ao centro comercial para beijar o vendedor que nos impingiu a lima mágica que tem garantia de 3 anos e só lhe falta deixar os vidros a brilhar.







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