(porque
a vida só faz sentido partilhada)
Tenho
amigos que nunca me lembro de ter conhecido, de tão pequena que era. Tenho
amigos que fiz na primária. E amigos com quem brincava na rua. Amigos que
conheci na preparatória. Nas aulas de natação e nas colónias de férias. Tenho
amigos de quem conheço a família como se fosse minha, com quem partilho
memórias de toda uma infância. Como se fossemos irmãos. Tenho bons amigos que
fiz no secundário. E amigos que começaram por ser apenas amigos de amigos. Tenho
amigos que fui fazendo durante a licenciatura e o mestrado. Tantos. Tão
importantes. Com quem cresci. Amigos que conheci na net e amigos que
reencontrei na net. E que nunca mais larguei. Tenho amigos que vieram através
dos meus filhos, mães de amigos ou professores. Tenho amigos que fui fazendo ao
longo dos anos, nas diferentes profissões e trabalhos por onde passei. Colegas
que se transformaram em amigos. E agora tenho novos amigos. Vizinhos que, aos
poucos, se tornaram amigos. Novos e velhos amigos por esse mundo fora.
Os
meus amigos não são todos iguais, heterogéneos. Nem podem ser todos alvo do
mesmo rótulo. Vêm de quadrantes muito diferentes. Com percursos de vida
diametralmente opostos. Uns de direita, outros de esquerda. Outros das extremidades,
do centro e de coisa nenhuma. Amigos em grupo e amigos desirmanados. Tenho amigos que não têm estudos e que mal sabem
escrever. Tenho amigos altamente qualificados. Tenho amigos solteiros e sem
filhos. Tenho amigos com um rancho de filhos. Tenho amigos homofóbicos e homossexuais.
Amigos ateus e profundamente crentes. Religiosos mesmo. Amigos que fumam ganzas
e amigos-Polícia. Tenho amigos muito bem-sucedidos. E amigos a quem a vida
infelizmente trocou as voltas. Tenho amigos que falam diferentes línguas. Mais próximos ou mais
distantes, a distância no coração é a mesma.
Se
me perguntassem qual a minha maior qualidade diria que é a capacidade de fazer
amigos. Sou uma tagarela de primeira e meto conversa com facilidade. E, depois,
gosto de manter as amizades que faço (para poder continuar a falar,
obviamente!). Acho que cuido dos meus amigos. Não sou de escrever nem de
grandes telefonemas, mas vou acompanhando de longe as vidas de uns e de outros.
De vez em quando, pergunto pelos filhos, pais, avós, periquitos e empregos. As
boas notícias que me chegam enchem-me de orgulho e felicidade. E fico triste
quando as coisas não correm bem. Quando sou amiga, sou fiel e defendo os meus
amigos como uma leoa. Apenas pelo princípio.
É
óbvio que perdi amigos pelo caminho. Alguns afastaram-se. Ou a vida
encarregou-se de os afastar. E eu terei certamente afastado outros. Todos
deixaram saudades. Todos fazem falta. Mas, às vezes, é mesmo assim. É como os
amores. Deixam de fazer sentido. Se é triste? Não, nem por isso. Ficam as
memórias dos momentos vividos.
A
três dias de partir para Portugal, penso nos meus amigos. Em como gostava de
lhes dar um abraço sentido. De lhes dizer, sem pudores, o quanto gosto deles. De
lhes agradecer por terem sido um muro de energias positivas que ficou na
retaguarda e me deu confiança para avançar sozinha.
[
Tenho outro género de amigos que também merecem uma palavra… os meus amigos-livro.
Aos quais volto muitas vezes. Onde encontro novas respostas a perguntas que
nunca formulei. Que gosto de tocar, de cheirar de acarinhar. Onde me encontro
sempre. Diferente. ]