(onde se mostra que se
pode sempre aprender a dormir)
Hoje acordei a meio da
noite, como acordo por vezes. Cada vez menos. Reaprender a dormir tem sido uma
luta para mim, nos últimos anos. Fiz progressos de que me sinto orgulhosa.
Deixei de ter pesadelos. Já consigo dormir uma noite inteira. Uma noite inteira
de 8 horas… efectivamente nocturnas. Deixei de dormir aos bocadinhos, ao longo
do dia. Os meus olhos já não se fecham automaticamente, sempre que paro e me
encosto em qualquer lado. Agora tenho uma rotina, com horas fixas, para me
deitar. Acompanhada. Acho que este era o maior problema da equação: sempre
detestei dormir acompanhada, precisava do meu espaço de segurança. Depois,
havia outros. A minha propensão para ser noctívaga. Os horários e exigências do
trabalho meio doido de uma tradutora freelancer.
Hesitei muito antes de
aceitar voltar a este mundo da tradução e legendagem. Já me tinham feito outras
propostas, que fui sempre driblando. Tinha um medo louco de voltar a cair nos
mesmos velhos maus hábitos. Custou-me muito a chegar aqui. Mas estava
injustamente a subestimar a influência que o meu amor teve nesta reaprendizagem.
Porque eu gosto de dormir com ele. Agarrada a ele. Aninhada nele. O meu amor é
agora o meu espaço de segurança. E, de qualquer modo, ele não se vai deitar sem
mim. Se estico o horário mais um pouco noite dentro, ele deita-se no sofá à
minha espera. Não me diz nada, não me apressa, não me stressa. Mas fica ali a
dormitar, calmamente à minha espera. E eu apago logo o computador. Há rotinas
que fazem de nós o casal que somos. Que gostamos de ser. E os nossos dias
acabam sempre da mesma maneira: a conversar baixinho, nos braços um do outro.
Há um lugar no peito dele onde a minha cabeça encaixa na perfeição. E uma curva
na minha cintura onde a mão dele se aninha. O silêncio instala-se devagarinho.
Adormeço sempre embalada pelo bater do coração dele. Mesmo nos dias em que
discutimos e estamos zangados. O meu amor nunca se deita sem mim e eu nunca
adormeço longe do coração dele.
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