(onde o tempo se torna mais pesado
e o dinheiro ganha valor acrescentado)
Filho grande quis jogar pelo seguro e
aceitou o primeiro trabalho de estudante que apareceu, num restaurante a alguns
quilómetros de casa. O meu amor foi com ele à entrevista e a coisa ficou
apalavrada em Abril. O meu feeling estava certo, o
Diogo acabou mesmo por ser chamado para a colónia de férias com os velhotes do concelho, que o tinha cativado no “Salon de l’Emploi”. Infelizmente,
tinha aceitado a primeira proposta e recusou voltar atrás com a palavra dada.
Por mais que lhe explicássemos que era normal recusar um emprego meses antes de
começar a trabalhar, o rapaz manteve-se inflexível na sua ética (pré)
profissional. Confesso que não fiquei lá muito satisfeita, mas percebi que
estamos a desbravar caminho num terreno em que a nossa opinião já pouco conta.
Um trabalho esporádico de duas semanas como monitor parecia-me mais adequado
aos seus 15 anos do que um trabalho num restaurante, que se pretende que tenha
alguma continuidade ao longo do ano.
Mal os exames terminaram, ligaram-me para combinar o horário. Deixei-o trabalhar nesta última semana de Junho, à experiência. Garantiram-me que teria folga na próxima quinta-feira, para receber o boletim e ir à missa de encerramento do ano lectivo. Dada a sua idade, só poderá trabalhar em horário diurno. No primeiro dia, só disse maravilhas. Fazer sandes e limpar mesas era o sonho da vida dele. Não quis parar para comer, nem fazer pausas. No segundo dia, vinha todo entusiasmado. Afinal, aprendia depressa e até já o deixavam servir ao balcão. Devorou rapidamente um hambúrguer feito pela sua própria mão. Sábado, esteve de folga. Apesar de não dizer nada, estava estafado. Foi à festa de anos de uma amiga só mesmo porque não podia recusar. No terceiro dia, regressou alegre, mas já a contar o dinheiro que tinha feito. Ter de se levantar com as galinhas no Domingo não foi fácil. Parece que já não era bem o sonho de uma vida… Aproveitou para nos dizer que, agora, compreendia o nosso cansaço e falta de paciência, quando chegamos a casa no final da tarde. Desta vez, fez as pausas todas a que tinha direito. No quarto dia, a coisa pesou-lhe a sério, mas o estoicismo impôs-se. A motivação financeira falou mais alto. Afinal, 50 euros por dia é bastante dinheiro. Mas trabalho é trabalho, conhaque é conhaque. Ao quarto dia não se fez rogado para lembrar a chefe de que era hora de almoço. Hoje, entusiasmou-se por ver uma luz ao fundo do túnel. É o quinto e último dia desta sua primeira semana de trabalho, pautada por uma alegria decrescente. E pelo crescimento abrupto provocado pela entrada no mundo do trabalho.
Podia ter aceitado ficar mais uns dias, no início de Julho, mas preferiu dizer que não era possível. Quer descansar e aproveitar as férias, agora que todas as actividades extracurriculares acabaram. Suspirei de alívio, confesso. Tem-me custado vê-lo tão cansado e a recusar saídas com os amigos. Além disso, ainda estou a trabalhar e tem sido caótico conciliar os trajectos e os diferentes horários de trabalho com a escola do Vasco a meio gás. Já para não falar de que temos feito discretamente todas as tarefas do Diogo, para ver se lhe aligeiramos a carga... Na realidade, esta primeira semana de trabalho do filho grande também foi extremamente cansativa para nós.
Na última quinzena de Julho, o trabalho do Diogo no restaurante recomeça. Já percebi que vai ser a doer. Literalmente. Tanto mais que nem sequer se pode dizer que em Agosto vá aproveitar para esbanjar o ordenado, em Portugal. Metade vai directamente para a conta-poupança, sem apelo nem agravo. A outra metade servirá para pagar o LCD do home cinema que o Diogo partiu há meses. O restante, espero que gaste em disparates próprios aos seus 15 anos. É o ínfimo lado bom de começar a trabalhar como gente grande. O lado visível. O reverso da medalha é a tomada de consciência que o trabalho acarreta. É a perda da inocência, típica da infância. O tempo e o dinheiro adquirem um novo significado. Agora, as coisas começam a ter outro valor. Um valor acrescentado, digamos assim. Um videojogo são x horas de trabalho. Um telemóvel são x dias de trabalho. Umas férias no estrangeiro são x semanas de trabalho. E, assim, sucessivamente…
Se, no final de Julho, o Diogo decidir que afinal não quer trabalhar durante o ano lectivo não há qualquer problema. Mas se quiser trabalhar, também não. Até pode decidir que quer trabalhar, mas noutro emprego qualquer. No entanto, sabe que estará sempre condicionado pelas boas notas da escola. E que nunca poderá trabalhar mais do que um dia por semana, aos fins-de-semana. Idealmente, um dia por semana a cada dois fins-de-semana. Só ele poderá tomar essa decisão, porque depois terá de honrar o contrato que assinar com a entidade patronal. Espero que as três semanas de trabalho este Verão sirvam para ele conseguir tomar uma decisão avisada. Se possível, madura. Isto fica bem no papel… aqui dentro, balanço entre a vontade de ver o Diogo crescer e o desejo de proteger este meu filho crescido-mas-ainda-tão-pequeno. Há momentos em que custa crescer como mãe.
Mal os exames terminaram, ligaram-me para combinar o horário. Deixei-o trabalhar nesta última semana de Junho, à experiência. Garantiram-me que teria folga na próxima quinta-feira, para receber o boletim e ir à missa de encerramento do ano lectivo. Dada a sua idade, só poderá trabalhar em horário diurno. No primeiro dia, só disse maravilhas. Fazer sandes e limpar mesas era o sonho da vida dele. Não quis parar para comer, nem fazer pausas. No segundo dia, vinha todo entusiasmado. Afinal, aprendia depressa e até já o deixavam servir ao balcão. Devorou rapidamente um hambúrguer feito pela sua própria mão. Sábado, esteve de folga. Apesar de não dizer nada, estava estafado. Foi à festa de anos de uma amiga só mesmo porque não podia recusar. No terceiro dia, regressou alegre, mas já a contar o dinheiro que tinha feito. Ter de se levantar com as galinhas no Domingo não foi fácil. Parece que já não era bem o sonho de uma vida… Aproveitou para nos dizer que, agora, compreendia o nosso cansaço e falta de paciência, quando chegamos a casa no final da tarde. Desta vez, fez as pausas todas a que tinha direito. No quarto dia, a coisa pesou-lhe a sério, mas o estoicismo impôs-se. A motivação financeira falou mais alto. Afinal, 50 euros por dia é bastante dinheiro. Mas trabalho é trabalho, conhaque é conhaque. Ao quarto dia não se fez rogado para lembrar a chefe de que era hora de almoço. Hoje, entusiasmou-se por ver uma luz ao fundo do túnel. É o quinto e último dia desta sua primeira semana de trabalho, pautada por uma alegria decrescente. E pelo crescimento abrupto provocado pela entrada no mundo do trabalho.
Podia ter aceitado ficar mais uns dias, no início de Julho, mas preferiu dizer que não era possível. Quer descansar e aproveitar as férias, agora que todas as actividades extracurriculares acabaram. Suspirei de alívio, confesso. Tem-me custado vê-lo tão cansado e a recusar saídas com os amigos. Além disso, ainda estou a trabalhar e tem sido caótico conciliar os trajectos e os diferentes horários de trabalho com a escola do Vasco a meio gás. Já para não falar de que temos feito discretamente todas as tarefas do Diogo, para ver se lhe aligeiramos a carga... Na realidade, esta primeira semana de trabalho do filho grande também foi extremamente cansativa para nós.
Na última quinzena de Julho, o trabalho do Diogo no restaurante recomeça. Já percebi que vai ser a doer. Literalmente. Tanto mais que nem sequer se pode dizer que em Agosto vá aproveitar para esbanjar o ordenado, em Portugal. Metade vai directamente para a conta-poupança, sem apelo nem agravo. A outra metade servirá para pagar o LCD do home cinema que o Diogo partiu há meses. O restante, espero que gaste em disparates próprios aos seus 15 anos. É o ínfimo lado bom de começar a trabalhar como gente grande. O lado visível. O reverso da medalha é a tomada de consciência que o trabalho acarreta. É a perda da inocência, típica da infância. O tempo e o dinheiro adquirem um novo significado. Agora, as coisas começam a ter outro valor. Um valor acrescentado, digamos assim. Um videojogo são x horas de trabalho. Um telemóvel são x dias de trabalho. Umas férias no estrangeiro são x semanas de trabalho. E, assim, sucessivamente…
Se, no final de Julho, o Diogo decidir que afinal não quer trabalhar durante o ano lectivo não há qualquer problema. Mas se quiser trabalhar, também não. Até pode decidir que quer trabalhar, mas noutro emprego qualquer. No entanto, sabe que estará sempre condicionado pelas boas notas da escola. E que nunca poderá trabalhar mais do que um dia por semana, aos fins-de-semana. Idealmente, um dia por semana a cada dois fins-de-semana. Só ele poderá tomar essa decisão, porque depois terá de honrar o contrato que assinar com a entidade patronal. Espero que as três semanas de trabalho este Verão sirvam para ele conseguir tomar uma decisão avisada. Se possível, madura. Isto fica bem no papel… aqui dentro, balanço entre a vontade de ver o Diogo crescer e o desejo de proteger este meu filho crescido-mas-ainda-tão-pequeno. Há momentos em que custa crescer como mãe.
Mudança para segunda habitação com net irregular têm-me afastado de vir aqui comentar...E principalmente absorver como é diferente ajudar a crescer um filho nessas paragens e ser mãe ainda hoje, principalmente de um rapaz, em Portugal! Conheço filhos de amigas minhas que até aos 25 anos nunca tinham pegado numa faca nem usado o fogão a gás...Mais uma vez admiro-lhe a constância em construir seres independentes e preparados para voarem sozinhos! Sem terem disso consciência foi esse o modo como os meus pais me educaram, por razões que não interessa aqora: ainda que ela seja hoje uma adulta responsável, penso que utilizei um "modelo" contrário com a minha filha, mea culpa mas estes comportamentos opostos aos da nossa educação também vêm nos livros...Tudo a correr bem por aí, Rita!
ResponderEliminarEu tenho imensos comportamentos opostos aos dos meus pais. Acho que é natural contrariarmos o que achámos que estava errado e/ou era fruto de uma determinda época.
ResponderEliminarA coisa pequena veio hoje sozinha para casa, pela primeira vez na vida... no último dia de aulas do 4º ano. Até me arrepio, quando penso que desde os meus 6 anos andava sozinha em Benfica sem prestar contas a ninguém!
O mais difícil é encontrar um equilíbrio, Mariana. Um beijinho.
Com 7 anos a minha mãe metia-me no eléctrico que vinha de Benfica ( eu morava perto de Sete Rios) e eu ia ter com a minha madrinha que morava próximo do Príncipe Real...Se fosse hoje ia parar a uma instituição! Beijinhos, Rita
ResponderEliminarCom 7 anos a minha mãe metia-me no eléctrico que vinha de Benfica ( eu morava perto de Sete Rios) e eu ia ter com a minha madrinha que morava próximo do Príncipe Real...Se fosse hoje ia parar a uma instituição! Beijinhos, Rita
ResponderEliminarCom oito anos, eu ia pela Estrada de Benfica afora, desde a Conde de Almoster até à escola do Magistério Primário! E tinha as chaves de casa (que invariavelmente perdia todos os meses...). Com a idade do Vasco já apanhava o autocarro para ir a casa dos meus avós, em Sete-Rios. Essa infância livre deixou muitas saudades e acredito que tenha formado gerações mais desenrascadas. Hoje não dou a mesma liberdade aos meus filhos, apesar de saber que os nossos medos são algo irracionais. A violência diminuiu e há outros meios de controlo parental, como os telemóveis. Por isso, tento controlar-me e dar-lhes algumas asas para voarem...
EliminarEu acho que dar asas custa tanto...mas tanto mais do que ter um filho sempre "à beira"! E, se os telemóveis ajudam, também despoletam angústias quando a chamada não chega à hora prevista ou vai para a caixa do correio! Assim difícil mesmo são as primeiras saídas depois de terem tirado a carta, digo eu por experiência própria...Mas ainda falta muito! Bom resto de semana, Rita!
ResponderEliminar