(onde se celebram 15 anos de maternidade)
Fazes
hoje 15 anos. Quando nasceste, eu tinha acabado de fazer 25. Era uma miúda. E
apaixonei-me perdidamente por ti. Quando tu nasceste, eu cresci. Tornei-me
adulta. Demasiado adulta. Foi a única maneira que encontrei de conseguir fazer
face à responsabilidade imensa que me impuseste. Tornaste-me mãe. Não uma mãe
qualquer, tornei-me tua mãe. E isso
exigiu de mim ser a melhor. Ou, pelo menos, eu assim pensava. Não merecias
menos. Regressei às origens. Mas ainda era demasiado infantil para aceitar de
ânimo leve o peso das diversas mulheres que povoam a nossa família. Depois,
cresci. Hoje, percebo que sou esta mãe – a tua
mãe – graças à minha própria mãe. À avó Clarisse e à tia Clarisse. À avó Lena. À
mamie. Na confluência (diria mesmo, na divergência…) de todas estas ascendências
cresci como mãe. Talvez seja por isso que às vezes me falte alguma coerência.
Sou muitas numa só.
Entretanto,
desisti de ser a melhor mãe do mundo. Contento-me em ser a tua melhor mãe. A melhor mãe que consigo ser para ti. (Para o teu
irmão, sou uma outra mãe, que tu nem sempre reconheces e compreendes.) Fazemos
hoje 15 anos. Percorremos um longo caminho. E eu vou-me reinventado. Agora tenho 40, devo estar a meio
da minha vida. E, paradoxalmente, sou muito mais nova do que aquela outra Rita
de 25 anos que te teve. Porque me sinto mais liberta e segura, já não preciso
de me agarrar a certezas absolutas. Assumo o erro. Sei que, por vezes, tens
vergonha desta minha forma despudorada de ser. Dizes-me: “Ó, mãe, olha aí… pára,
pareces uma miúda!” E, no outro dia, estava a ralhar contigo e tu
interrompeste-me para perguntar por que raio te estava a tratar por “você”.
Tive vontade de rir e disse muito depressa: “Estou-me a rir, mas não é de boa”,
como dizia a minha avó Rosália. Trato-vos sempre por “você” quando estou muito
zangada, só que nunca te tinha dado para questionar esta minha parvoíce. Estás
a crescer e isso aquece-me o coração.
Se
eu não consegui ser a melhor mãe do mundo, tu consegues ser o melhor filho do mundo. (O
teu irmão também, de uma forma completamente diferente que tu nem sempre
reconheces e compreendes.) Quando um bebé nasce, diz-se que a mãe tem de fazer
um ajustamento entre o seu bebé imaginário e o real. Entre o bebé com que
sonhou e o que lhe nasceu. Eu não precisei. A minha capacidade imaginativa
ficou muito aquém da realidade. Tu és melhor do que nos meus sonhos. Não és
perfeito. Mas és o meu filho
perfeito.
Nestes
últimos 15 anos, não tenho qualquer dúvida de que aprendi muito mais contigo do
que tu comigo. Sinto que o tempo me escorre por entre as mãos, agora. Já temos tão
poucos anos juntos, debaixo do mesmo tecto. Deixa-te ficar por aqui só mais um
bocadinho, está bem? Espero ainda poder viajar muito contigo. Adoro conhecer
mundo contigo. Gosto dos nossos momentos a dois. Os dias mãe-filho. Gosto de te
ver cozinhar, embora nem sempre me agrade o resultado e me enfureça o estado em
que deixas a cozinha. Gosto de me aninhar contigo no sofá a ver programas
palermas. Gosto que me mandes sms a gozar comigo. Gosto muito de te ouvir
tocar. Especialmente trompete, que já vai sendo mais raro. Gosto quando és
altivo e te achas o melhor. Gosto da tua segurança. Da tua imensa responsabilidade e autonomia. Gosto quando vamos os dois
no carro e tu falas sem parar. Gosto quando trocas um sorriso cúmplice comigo,
porque o Vasco fez qualquer coisa que te deixou enternecido. Gostei muito de
ver o teu assombro, quando espreitámos a aula de ballet do mano pela frincha da
porta. Gosto da nossa cumplicidade, do mesmo sentido de humor subtil. Gosto de
te ouvir contar muito depressa o teu dia todo ao Pascal, mal chegas da escola. Gosto
quando dizes que é a pessoa mais inteligente que conheces. Mas também gosto
quando lhe topas os defeitos e encolhes os ombros a rir. Gosto quando fazes
perguntas e queres aprender muitas coisas ao mesmo tempo. Gosto muito da tua
companhia, de estar contigo. Gosto que tenhas conseguido tornar isto de ser mãe
uma coisa tão divertida.
És
a minha maçã de Junho, que eu continuo a amar de um amor espantado. O dia em que nasceste, há 15 anos atrás, será sempre o dia mais feliz da minha vida.
Maçã
de Junho
Jorge Palma
És
a estrela da alvorada
E a madrugada junto ao cais
És tudo o que eu vejo em ti,
És a alegria e muito mais
És a minha maçã de junho
És o teu corpo e o meu
Amo-te mais que à vida,
Que a vida sem ti morreu
E a madrugada junto ao cais
És tudo o que eu vejo em ti,
És a alegria e muito mais
És a minha maçã de junho
És o teu corpo e o meu
Amo-te mais que à vida,
Que a vida sem ti morreu
És
a erva perfumada,
Debruada a girassóis
O trago do café quente
Nas manhãs entre lençóis
És a minha maça de junho
E a minha noite de verão
Anda, vem comigo,
Vamos, dá-me a tua mão
Debruada a girassóis
O trago do café quente
Nas manhãs entre lençóis
És a minha maça de junho
E a minha noite de verão
Anda, vem comigo,
Vamos, dá-me a tua mão
És o encontro na estrada,
És a montanha e o pôr-do-sol
O vinho bebido em festa,
És a papoila e o rouxinol
És a minha maça de junho
E a minha estrela polar
Sem ti eu não tenho norte,
Sem ti eu não sei amar.
És a montanha e o pôr-do-sol
O vinho bebido em festa,
És a papoila e o rouxinol
És a minha maça de junho
E a minha estrela polar
Sem ti eu não tenho norte,
Sem ti eu não sei amar.
Lindo <3 Felicidades
ResponderEliminarObrigada, Sara. Um beijinho.
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