(onde nos
sentimos mães de filhos alheios)
Acordámos
hoje ao som do Brexit. Enquanto o meu amor desfiava excertos de notícias de
diversos jornais online, eu não
conseguia deixar de recordar o documentário que vi há uns dias. Ele fazia conjecturas
e montava cenários possíveis, eu recordava a miséria que grassa na selva (des)humana
de Calais. Ele citava políticos, eu ouvia o desesperado eco longínquo dos
voluntários belgas. E os passos das galochas das crianças no meio daquele mar
de lama. Diz que há centenas que estão largadas à sua própria sorte. Pior. Diz
que há centenas que já foram apanhadas por redes de pornografia infantil. Cinco
euros. O preço do sexo infantil, em Calais. A poucas horas de minha casa. No
coração da Europa. E, de repente, o meu amor irrompe pelos meus pensamentos
negros adentro. O ministro do interior francês avisou que ia suspender todas as
medidas que impediam os refugiados de passarem a Mancha. Seres humanos como
moeda de troca. Como arma de arremesso. Como vingança mesquinha. Que Europa
somos nós, em pleno século XIX?
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