(onde se mistura atentados, reality shows e Facebook)
Uma
das coisas que me deixa mais orgulhosa neste país é a tolerância. Quando vejo
as notícias do tiroteio em Orlando, não posso deixar de suspirar de alívio por estar
a criar os meus filhos numa sociedade que está nos antípodas da homofobia
americana. E, sendo a Bélgica um alvo preferencial dos terroristas, onde nos
últimos tempos se nota um maior cuidado para não provocar inutilmente as
comunidades ditas “susceptíveis”, mais orgulhosa fico por ver que o canal de
televisão estatal continua tranquilamente a passar o vídeo promocional da
próxima temporada de “L’amour est dans le pré”. Trata-se de um reality show onde vários agricultores andam
à procura da alma-gémea, que tanto pode ser uma mulher como um homem. Porque é
normalíssimo que alguém que trabalha num meio tipicamente másculo seja gay. Tal como é perfeitamente banal que
a Super Nanny – figura central de
outro reality show, desta vez
dirigido a pais em apuros – vá resolver o problema de uma família recomposta com
quatro crianças e duas mães. Não estou a falar de documentários sobre a homossexualidade,
estou a falar de programas que passam em horário nobre, onde surgem em pé de
igualdade outras formas de amor.
A
Bélgica é um país precursor ao nível dos direitos dos LGBT. O casamento, a
adopção e a reprodução medicamente assistida para casais homossexuais são uma
realidade neste país há mais de uma década. A questão é que não basta legislar,
é preciso mudar a sociedade. E as mentalidades só evoluem quando situações
diferentes irrompem no nosso quotidiano confortável e se instalam, acabando por
se tornar normais. Um reality show que
é visto por milhões de famílias ao serão, onde tanto aparecem casais heterossexuais
como gays, banaliza por completo a
diferença. Ao longo dos anos, isto ajuda a criar uma sociedade tolerante.
Após
os ataques de Bruxelas, o slogan que
começou de imediato a circular por aqui foi “Même pas peur”. Essa era a mensagem importante a fazer passar:
vergamos, mas não quebramos. Não houve cá bandeirinhas, nem lágrimas, nem “Je suis coisa nenhuma”. Em Portugal é
sempre tudo mais epidérmico, mais inflamado, mais emotivo. Desta vez, tenho de
admitir que fiquei admirada por ver a ausência de “solidariedade” facebookiana para
com os atentados norte-americanos. Mas suponho que seja fácil apregoar que
se é Charlie ou Paris, embora seja um bocadinho mais difícil dizer que se é
Orlando… não vá o chefe ou os vizinhos começarem de repente a pensar que uma
pessoa é “virada” ou algo assim. E isso talvez ainda seja pior do que os 50 mortos do
tiroteio, caraças...
Em Portugal, as pessoas estavam na praia. Fim-de-semana prolongado. Tão simples quanto isso.
ResponderEliminarHum... não sei se fico convencida, Gralha. Hoje em dia a malta já tem toda net no telemóvel.
EliminarO 3G é caro. Só soube do que aconteceu porque os meus filhos, que acordaram e foram ver desenhos animados enquanto eu corria pela serra, me informaram que "tinha havido um atentado e a América ia fazer uma guerra contra a Síria". Tive de informar-me devidamente para arrumar aquelas cabecinhas.
EliminarEu estava a referir-me à generalidade das pessoas, que põe aquelas coisas todas delicodoces no FB e que desta vez, ficou a assobiar para o lado.
EliminarTu és uma pessoa à parte... até nem estavas na praia, nem nada! ;)