segunda-feira, 6 de junho de 2016

E quando já pensávamos que estávamos safos…


(onde se expõe os malefícios da fruta)



O pai do meu amor decidiu que já era tempo de nos conhecer pessoalmente e impôs a sua presença com uma simplicidade desarmante. Desta vez, foi impossível fugir.
Avisei bem o Vasco: nada de mãos a coçar o que não devem, nada de puns, nada de arrotos, nada de comer como um porco, nada de mandar a comida para fora do prato, nada de entornar copos à mesa, nada de fazer voar os talheres, nada de falar de boca cheia, nada de interromper a conversa dos adultos, nada de se pôr a falar sem parar, nada de familiaridades, nada de tratar o senhor por “tu”, nada de ser indiscreto… a bem dizer da verdade, nada das habituais vasquices. Acho que a minha lista de interdições foi bastante exaustiva. À pergunta desolada “Afinal, o que posso fazer?!”, respondemos unanimemente “NADA!”.
O dia passou-se, com uma estranha naturalidade. O Diogo e eu seguíamos de perto os mínimos gestos do Vasco, não fosse a coisa descambar. Para nossa surpresa, petit chose apresentou-se no seu melhor. Esbanjou simpatia. Ofereceu um café, que se prontificou a fazer (sem partir a máquina, a chávena ou o açucareiro de premeio). Soube ser agradável e cativante como só ele. Aos poucos, começámos a relaxar. No final do dia, parou de imediato de roer uma maçã e interrompeu a leitura para se despedir. Com uma cortesia inesperada, pôs-se de pé e estendeu cordialmente a mão. O pai do meu amor sorriu, fez-lhe uma festinha na cabeça e estendeu-lhe a cara para receber um beijo. Suspirámos de alívio. Surpreendentemente, tinha corrido tudo bem.
Já tínhamos voltado costas para ir à nossa vida, quando ouvimos o Vasco pedir desculpa pela maçã. O senhor, que se estava a dirigir à porta, voltou para trás. “A maçã?!”  “Sim, deixei-lhe aí um bocado de maçã colado na cara, quando lhe dei um beijinho.”
A ver se não me esqueço de acrescentar à lista: nada de despedidas com a boca cheia. Porco, pá!

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