(onde se expõe os malefícios da fruta)
O
pai do meu amor decidiu que já era tempo de nos conhecer pessoalmente e
impôs a sua presença com uma simplicidade desarmante. Desta vez, foi impossível
fugir.
Avisei
bem o Vasco: nada de mãos a coçar o que não devem, nada de puns, nada de arrotos,
nada de comer como um porco, nada de mandar a comida para fora do prato, nada
de entornar copos à mesa, nada de fazer voar os talheres, nada de falar de boca
cheia, nada de interromper a conversa dos adultos, nada de se pôr a falar sem
parar, nada de familiaridades, nada de tratar o senhor por “tu”, nada de ser
indiscreto… a bem dizer da verdade, nada das habituais vasquices. Acho que a minha lista de interdições foi bastante
exaustiva. À pergunta desolada “Afinal, o que posso fazer?!”, respondemos unanimemente
“NADA!”.
O
dia passou-se, com uma estranha naturalidade. O Diogo e eu seguíamos de perto os
mínimos gestos do Vasco, não fosse a coisa descambar. Para nossa surpresa, petit chose apresentou-se no seu melhor.
Esbanjou simpatia. Ofereceu um café, que se prontificou a fazer (sem partir a
máquina, a chávena ou o açucareiro de premeio). Soube ser agradável e cativante
como só ele. Aos poucos, começámos a relaxar. No final do dia, parou de imediato
de roer uma maçã e interrompeu a leitura para se despedir. Com uma cortesia inesperada,
pôs-se de pé e estendeu cordialmente a mão. O pai do meu amor sorriu, fez-lhe
uma festinha na cabeça e estendeu-lhe a cara para receber um beijo. Suspirámos
de alívio. Surpreendentemente, tinha corrido tudo bem.
Já
tínhamos voltado costas para ir à nossa vida, quando ouvimos o Vasco pedir
desculpa pela maçã. O senhor, que se estava a dirigir à porta, voltou para
trás. “A maçã?!” “Sim, deixei-lhe aí um bocado
de maçã colado na cara, quando lhe dei um beijinho.”
A
ver se não me esqueço de acrescentar à lista: nada de despedidas com a boca
cheia. Porco, pá!
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