(que o amor não precisa de laços de sangue, só de presença)
O
meu amor saiu a correr de uma reunião, na sexta-feira à tarde. Num observatório
perdido algures na Suíça. Conduziu mais de quinze horas, sem parar. Atravessou
quatro países. Foi devolver o carro. Apanhou um comboio. No sábado, quando
chegámos ao auditório onde iria decorrer o espectáculo, já lá estava à nossa
espera. Só para dar um abraço rápido e desejar boa sorte, pois a coisa pequena estava
atrasada para a maquilhagem. Assistiu com esforço aos bailados todos. A Princesa e a Ervilha, Patinho Feio, Soldadinho
de Chumbo, Sapatos Vermelhos, A Pequena Vendedora de Fósforos… Até que chegou a vez de A Polegarzinha. No escuro, vi-o iluminar-se
com um sorriso. Ainda as luzes não tinham baixado, já o meu amor estava a
aplaudir entusiasticamente. À nossa volta ouvia-se: “Que querido!”, “Que fofinho!”,
“Que bem que ele dança!”. No meio de quase uma centena de raparigas, o Vasco
nem sequer precisa de dançar lá muito bem para se destacar naturalmente. É o
único rapaz. O meu amor acenava com a cabeça, com um orgulho de pertença que ultrapassava a sua timidez habitual. Porque
ele fez quinze horas de estrada para o ver dançar cinco minutos. Um bailado que
já conhecia de cor, dado que tinha assistido à socapa aos ensaios da semana
anterior. À saída, o Vasco agarrou-se a ele a matar saudades. Agradeceu-lhe,
sentido. E piscou-me o olho, como quem diz: “Bem te disse que ele ia chegar a
tempo!” Podemos não ser a família típica, mas sei que os meus rapazes estão a
crescer com a certeza inabalável de um amor que não precisa de genes comuns. Deve
ser por isso que, no dia do concerto de violino no lar de idosos, mal fui ter
com ele, o Vasco me atirou: “Mãe, eu prometo que vou tomar conta de vocês. Nunca vos deixarei num sítio destes, a ti e ao Pascal.”
Acho este teu texto espantoso! Um dos melhores, senão o melhor, do Blog. Não tanto por ter dito tudo o que devia ser dito sobre o empenho do Vasco e do belga, mas principalmente por te queres controlado e não teres feito uma única comparação com o passado.
ResponderEliminarA genialidade do teu texto está nisso, naquilo que o texto NUNCA DIZ, mas, por não dizer, leva as pessoas a pensar e a sentir...
E isso - tanto como o esforço e as capacidades artísticas do Vasco - é arte.
E é uma pena que seja uma arte que se fica só por blogs. Se tu tivesses pela tua arte metade do empenho do Vasco pela dele, serias escritora.
Esta manhã, o Vasco dizia que era teimoso como a mãe... a quem é que nós sairemos?! ;)
EliminarConcordo com o comentário anterior, acho que escreve muito bem. Para quando um livro próprio em vez de se dedicar apenas à tradução do que os outros escrevem? Pense nisso... :)
ResponderEliminarO seu Pascal não é um homem, é um (o) Homem. Não é para todas, é porque também merece. ;)
Muito obrigada pelo seu comentário tão simpático, caro anónimo. Só concordo com o elogio feito ao meu Belga... :)
EliminarGrande pascal!!!
ResponderEliminar♥
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