(uma
prenda de Natal atrasada)
No
último ano e meio, os meus filhos têm sido submersos por uma avalanche de
prendas caríssimas, sem que eu tenha uma palavra a dizer. Desconfio que devem
ser as crianças mais tecnologicamente avançadas aqui do burgo. Ele é tablettes,
iphones, computadores portáteis, Playsations e Nintendos, smartphones, máquinas
fotográficas com milhões de megapixéis… Infelizmente, há pessoas que não sabem
amar de outra maneira.
Como
é evidente, esta não é a educação que eu lhes quero dar. Está nos antípodas do
estilo de vida que levamos. Vai contra tudo o que acredito. Mas a verdade é
que eu sou apenas parte da equação. Metade, para ser mais exacta. Sei que tenho a minha família na retaguarda,
mas o seu peso é cada vez menor à medida que as relações se deterioram
e o acesso aos meus filhos restrito.
Apesar
de tudo, vou tentando lutar contra este materialismo que abomino. Contraponho a
frieza dos ecrãs à beleza da natureza que nos rodeia, o mundo virtual aos
risos dos amigos, a alienação dos videojogos à evasão que a leitura de um bom
livro nos proporciona. A simplicidade da vida real à falsidade da vida fictícia,
idealizada, sonhada. Tento fazer-lhes ver que o dinheiro tem a importância que
nós lhe atribuímos. E apenas essa. Que amar não é dar, é dar-se. E isso é muito mais importante do que os bens materiais.
O
meu amor, lá longe, acabou de dar o seu contributo para esta batalha. Mais um, a juntar a tantos outros. E por isso
ser-lhe-ei eternamente grata. Como prenda de Natal, ofereceu ao Diogo e ao Vasco
bilhetes de avião para irem a Portugal nas férias do Carnaval. Com o único
objectivo de estarem com a minha família. Porque, como ele diz, há outro tipo de
prenda igualmente importante: o tempo. O tempo que passamos com as pessoas que amamos. O tempo em que nos damos aos outros. O tempo que, por oposição à
cascata de prendas tecnológicas, ganha outra dimensão. Muito mais humana. E
isto, sim, é o essencial.
[ Merci, du fond du coeur. Ta Renarde. ]
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