(onde
se mostra que a matemática dos dias nem sempre é exacta)
Foi
em Janeiro que tudo começou. Há um ano atrás, portanto. Mudei-me para cá no
final de Agosto, mas os meses seguintes não contaram, porque eu ainda estava
em modo de sobrevivência. Foi uma época muito dura, feita de incertezas, choro, medo.
Uma dor surda. E saudades, numa moinha constante. Três meses foi o tempo que
demorei a pôr esta nova vida a andar para a frente.
Quando
entrei em 2013, senti o impacto do que tinha feito, pela primeira vez. Longe dos
meus filhos, entre amigos e vizinhos a assistir aos fogos-de-artifício
improvisados de Malempré. A olhar para o céu, no meio da neve. Pensei: “Pronto,
não há dúvida… conseguiste! Sabe-se lá como, conseguiste desenrascar
uma nova vida. Agora, tens de a viver.” Senti assim uma espécie de vertigem,
quando percebi que o mais difícil estava feito. Uma euforia, seguida de um
ligeiro ataque de pânico. E agora, que desculpa é que eu tinha para continuar a
não viver? Tinha passado meses concentrada no objectivo, sem olhar à minha
volta. A viver com e para os meus filhos apenas. E percebi
que isso não chegava. Sobreviver apenas, já não era suficiente. Tinha de começar
a viver. Tinha de começar a viver uma vida. A minha vida.
Portanto,
foi em Janeiro que tudo começou. O ano de 2013 foi vivido a sério. Não foi
apenas mais um ano que passou, foi o ano que mudou as nossas vidas e,
principalmente, a nossa forma de estar na vida. Foi um ano que nos mudou a todos, inexoravelmente.
Mudei
de país. Aprendi a estar sozinha, a valer-me sozinha, a tomar decisões e
assumir responsabilidades. Aluguei a minha primeira casa. Fiz amigos e
estreitei laços com outra família. Aprendi a viver numa aldeia, num huis clos, que nos recebeu de braços
abertos. Ajudei os meus filhos a começarem a falar uma nova língua, a
adaptarem-se a uma nova realidade. Recomecei a trabalhar fora de casa, a dar
aulas. Geri prioridades, horários, actividades, necessidades várias. Fui melhor
mãe, mais feliz, mais presente e disponível. Visitei nove países diferentes, quase
sempre de carro. Apaixonei-me. Decidi viver esse amor, para a qual não estava
minimamente preparada. Escolhi uma escola secundária
para o meu filho mais velho, após meses de indecisão. Comprei um carro sozinha. Traduzi livros e um
festival de cinema. Voltei a montar a cavalo, juntamente com os meus filhos. Dei
um longo passeio de muitos quilómetros com o meu amor. Vi um filho entrar na
adolescência com um espanto enternecido. Aprendi a viver com (muito) menos quando
fiquei com um horário reduzido este ano, na nova escola. Ganhei uma batalha
judicial pela guarda dos meus filhos, mas não tive a paz esperada. Percebi que
vou trazer sempre no coração uma saudade do país, da família e dos amigos, do
sol que ficou para trás. Fiz uma promessa de amor selada com cuspo, sem papéis
assinados, testemunhas ou ilusões de amor eterno. Comecei um blog
onde tento passar a escrito todas estas experiências.
Os
meus desejos para 2014? Saúde, para os meus e para mim. Trabalho, muito. Duas
crianças felizes. O meu amor junto de mim. Paz, finalmente paz. Acho que esta
fotografia resume isso tudo…
Vocês fazem falta, pá :)
ResponderEliminarDesejo-te o dobro de tudo aquilo que pedi para mim para o ano de 2014.
ResponderEliminarTenho saudades tuas, Ritocas.
Beijo enorme para vocês.
Podes crer, são histórias que tocam de verdade. E desconfio que tem a ver com o modo como escreves. Felicidades ;)
ResponderEliminarObrigada, meninas! Também tenho muitas saudades vossas, dos almoços a falar da vida... Um excelente 2014, cheiiiinho de coisas doces.
ResponderEliminar@ Obrigada, Ricardo. Gostei muito de vos ver a todos no dia de Natal pelo skype. O Mateus está lindo! Felicidades para ti e para a Tininha. :)
Uau! Que ano fenomenal. És uma inspiração, mesmo mesmo.
ResponderEliminarO meu nome é Johnny M. e aprovo esta mensagem.
ResponderEliminarSem palavras para a tua força. Apetece-me pegar no telefone para te ligar :-)
ResponderEliminarNão achas que isto já começa a ter forma e conteúdo que justifica começar a procurar uma editora (que tenha sobrado da voragem devastadora...)?
ResponderEliminar@ Obrigada, Gralha. Nem imaginas como me sabe bem ler isso... eu que te sigo há tanto tempo. Um beijinho grande.
ResponderEliminar@ Olha, o Artur!!! Junta-te à malta de letras que é tão sonhadora como tu. Sabes que gosto de escrever, seja para reescrever as palavras de outros em diferentes línguas, para as legendar ou, simplesmente, para contar as nossas aventuras à família, amigos e aos que aqui vêm parar por acaso. Gosto de me sentar com uma chavena de café a escrever, quando a casa já está em silêncio e o D. Fuas ronca aos meus pés. E isso chega-me.