(onde se mostra o equipamento de Educação Física do Vasco
e se vê que fazer
desporto em Malempré não é bem a mesma coisa)
Quando
chegou, no ano passado, o Diogo vinha em excelente forma física graças aos três
treinos semanais de hóquei em patins (mais os jogos aos fins-de-semana, os torneios, os
estágios, o dar uma perninha na equipa a seguir só para desenrascar porque o
outro guarda-redes estava doente…). Farto desta vida de desportista
de competição para a qual não foi talhado, federado desde os 6 anos, o Diogo
decidiu tirar uma licença sabática sem fim à vista. Até ter a primeira aula de
Educação Física na escola primária de Malempré. E chegar a casa completamente
derreado. Morto. É que a professora não brinca em serviço. As aulas são mesmo a
doer.
A
escola é pequenina e não tem ginásio. Mas isso só seria um problema se não
houvesse quilómetros de bosques aqui à volta. O que não falta é espaço. Faça
chuva, faça sol, as aulas de Educação Física são muito simples: a professora
pega na rapaziada toda e põe-na a correr durante 1 hora. Sem parar. É assim uma
espécie de trekking a toque de caixa. A subir, a descer, a saltar riachos e
pedregulhos, a evitar buracos e troncos caídos. No Inverno, é muito mais divertido,
porque a tudo isto junta-se… a neve! Substituem-se os fatos de treino e os
ténis por fatos e botas de neve, gorros, cachecóis e luvas. Quentinhos e a
correr é que eles estão bem. E cansados.
O
Diogo esforçava-se imenso por dar o exemplo e manter o ritmo, concentrado em liderar
o pelotão, já que era o mais crescido da escola. Acabava as aulas com o
sentimento do dever cumprido, mas morto de cansaço. O Vasco nem sequer tentava
acompanhar a trupe, que aquilo via-se logo que era demasiado esforço e pouco
divertimento. Giro, giro, era aproveitar o passeio pelos bosques para apanhar
paus e lutar com os ogres que saíam subitamente detrás de uma árvore. Por
vezes, também conseguia afastar monstros com uma saraivada de calhaus. A
professora começou por tentar incentivar o Vasco a seguir o ritmo da turma e
correr. Depois, tentou que, pelo menos, desse uma corridinha de vez em quando para
não ficar muito atrás. Às tantas, já só esperava por ele em pontos estratégicos
para ter a certeza que não o perdia de vez. No final do ano, o Vasco tinha autorização para defender
a retaguarda de todo o tipo de inimigos imaginários, enquanto o irmão conduzia
a turma.
Hoje
é dia de Educação Física. E o Vasco, apesar de já não ter o irmão a marcar o
ritmo da corrida, continua calmamente a caminhar atrás do grupo. Fiel ao seu
desígnio de guardião dos bosques de Malempré.
[
Este ano, a professora pediu-me encarecidamente que comprasse um fato de neve
um bocadinho mais escuro para conseguir mantê-lo debaixo de olho… ]
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