sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A ti, que às vezes passas por aqui…

(um grande beijinho de parabéns, maninha)


 Acordavas sempre muito cedo. Espreitavas pelas grades do berço e chamavas, baixinho: “Tatá?”. Eu mandava-te dormir, zangada. Mas tu continuavas. Sabias que eu acabava por desistir. Levantava-me sem fazer barulho e metia-te na minha cama. E tu ali ficavas, a brincar, enquanto eu dormitava mais um pouco. Mal ouvia passos no andar de cima, voltava a pôr-te no berço. Às vezes, éramos apanhadas e eu ouvia um ralhete. Porque no final do ano ia-me embora e não te podias habituar a tanto mimo. Ouvi muitos ralhetes. Como naquele dia em que choramingavas doente e fui terminantemente proibida de te meter na minha cama. Tinhas tanta febre. Peguei no édredon e na almofada. Dormi a noite toda no chão, de mão dada contigo.

Quando voltei, muitos meses depois, estranhaste-me. Andavas à minha volta, desconfiada. Não vinhas para o meu colo. Já sabias dizer o meu nome e falavas pelos cotovelos. No final dessa noite, aproximaste-te de mim e perguntaste, a medo: “Tatá?”. As memórias demoraram a chegar, mas estavam lá.

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