(porque
afinal as férias também servem para isto)
Hoje,
com um sorriso perverso, o filho grande recordou-me que a última vez que
tínhamos estado na praia eu ainda lhe conseguia fazer amonas. Agora, era capaz
de ser um bocadinho mais complicado…
E,
de repente, a realidade apanhou-me. Ali, no meio do lago. Voltou a apanhar-me.
Às vezes, ainda me acontece isto. Ficar momentaneamente parada no limbo da
memória. Ter a percepção exacta do tempo que passa. Construir esta nova vida
tem exigido tanto de mim que nem sempre consigo traduzir as nossas vivências em
semanas, meses, anos. O Diogo já tem mais 20 cm do que eu. E faz questão de os
mostrar. Aquele filho que os meus olhos passaram o dia à procura no areal já
tem tamanho de homem. Há três anos que não íamos à praia juntos, no Verão. Estávamos
a precisar de actualizar as nossas memórias à imagem do nosso tamanho real.
No
outro dia, passou-se o mesmo no meio do trânsito. Estávamos parados num sinal e o Vasco
começou a fazer-me perguntas sobre os nossos primeiros tempos aqui, na Bélgica.
Já não se lembrava de tanta coisa! E novamente aquele choque de confronto com a
realidade. Quando deixámos Portugal, o meu filho pequeno tinha apenas cinco
anos. Era um bebé grande. Agora, vai para o quarto ano. É um rapazinho
crescido. Tem oito anos de memórias maioritariamente construídas neste país,
nesta nossa nova vida… cujos primórdios sente necessidade de recordar.
As
férias também servem para isto. Para recordar o passado e cristalizá-lo numa
determinada fase da nossa história de vida. Para dar sentido e arquivar
recordações. Para encerrar capítulos e começar novas histórias. Para construir
novas memórias. Para nos forjarmos enquanto família. A mãe e os seus filhos.
Uma mãe que amadureceu, dois filhos que cresceram imenso. Todos nós
precisávamos de novas memórias, novas fotografias para ilustrar a nossa vida
presentemente.
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