quarta-feira, 22 de julho de 2015

Viagem a Marrocos - dias 2 e 3

(onde nos perdemos alegremente na medina em Marraquexe)

 
O meu amor preparou-nos uma surpresa à chegada a Marraquexe... reservou um quarto num riad, no centro da medina. Nada menos, nada mais do que a suite Royal. Os miúdos pareciam uns maluquinhos, às gargalhadas. O cansaço de um dia inteiro de viagem desapareceu como que por milagre à medida que iam descobrindo o palacete com a piscina interior e os salões tirados das "Mil e uma noites". Os nossos aposentos dignos de uns príncipes. O Vasco, que tinha tido uma pequena crise de choro ao atravessar a praça Jemaa el-Fna e o souk imundados de gente às nove da noite, recuperou num instante a boa-disposição que lhe é característica.
 
Os dois dias seguintes foram passados por aqui mesmo. Fazíamos pequenas excursões e regressávamos ao riad. Perdi a conta aos duches de água fria que tomámos. Aos litros de sumos de fruta, água e chá de menta que bebemos. Estava muitooo calor. Principalmente estava muita confusão. Marraquexe, em plena recta final do Ramadão, é caótica. Uma autêntica explosão de sentidos que requer alguma habituação. Mas, devagarinho, as coisas foram-se fazendo... quase sempre a pé. Visitámos o museu de Marraquexe e o jardim Majorelle. Perdemo-nos vezes sem conta nas ruelas da medina. Explorámos cada recanto do souk. Calcorreámos a Jemaa el-Fna, sentindo a sua pulsação tão diferente segundo a hora do dia. Espreitámos as mesquitas. Dedicámo-nos a fazer coisas gratuitas, apenas para "o prazer dos olhos", como dizem os marroquinos.
 
Excepto comida, bebida, transportes públicos e algumas (muito poucas) entradas, não gastámos dinheiro nenhum. Recusámos educada, mas firmemente, todas as ofertas que nos foram feitas. O Diogo descobriu que as coisas corriam melhor quando agradecia levando a mão ao peito. E descobrimos um novo talento da nossa coisa pequena, que afugentava todos os vendedores da banha da cobra com argumentos imbatíveis.
 
Tenho de confessar uma coisa, correndo o risco de parecer uma mãe babada... os meus rapazes nunca nos pediram para comprar o que quer que fosse. As únicas vezes que nos pediram dinheiro - o deles, não o nosso - foi para dar esmolas e deixar gorjetas. Bastante generosas, diga-se em abono da verdade. O Diogo mostrou-se especialmente sensível à miséria humana que grassa pelas ruas. E à imensa solidariedade que reina na sociedade marroquina. Viajar também é isto...ver como as nossas crianças se comportam noutros contextos. Nós já temos uma certa carapaça, eles ainda não. E reagem com o coração. Talvez nos caiba a nós ensiná-los a endurecer, não sei. Nós não fomos capazes. Limitámo-nos a assistir comovidos. Orgulhosos. E a tentar aprender com eles a ver as coisas com um olhar menos poluído de gente grande.

6 comentários:

  1. Que saudades de Marrocos. Espero poder voltar aí em breve, desta vez com a minha passarada. E espero que tenham oportunidade de visitar uma aldeia nas montanhas porque, apesar de tudo a "cidade" abrilhanta muito da realidade do país mais profundo.
    (lindos meninos, os teus)

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    1. Acho que esta é uma daquelas viagens a fazer absolutamente com filhos. Há anos que sonhava com isto e está a ser mágico ver Marrocos através dos olhos deles, Gralha.

      Quanto ao país mais real, por assim dizer, é complicado quando se está dependente dos transportes públicos. Claro que há excursões, mas perde-se em autenticidade...

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  2. Xinapá!

    Quanto à generosidade, os nossos filhos aprendem pelo exemplo, sempre ouvi dizer ;)

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  3. Não conheço Marrocos, mas gostava muito de conhecer, principalmente pela arquitetura e pelo chá me menta! Já os senhores que querem vender areia do deserto não me dizem grande coisa e até me assustam um bocadinho... Mas um dia destes ganho coragem!

    (Agora um aparte, que não tem nada que ver com nada, só com a minha pitosguice: ó mulher, tu aumenta-me faxávor o tamanho da letra, que me vejo grega para te conseguir ler! Nem com óculos lá vou! O preto mistura-se com o azulinho e fico a dois centímetros do ecrã!! Agradecida!) :)

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    1. Garanto-te que a arquitectura vale bem a pena um bocadinho de coragem para enfrentar o resto, Ana! ;)

      Mal tiver o meu velho e fiel companheiro de letras meto ordem neste blog, prometo. Até lá não consigo fazer melhor com a tablet. Sorry...

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