terça-feira, 7 de julho de 2015

Álibi perfeito

(começo a ficar seriamente desconfiada

de que o provincianismo é mesmo universal)



Recebi o programa das festas do meu bairro. Isso mesmo… do meu bairro, apenas e só. É a pomposa “Fête du Quartier de la Gare”. Três dias de festa para celebrar pouco mais de uma dúzia de casas situadas em frente à estação dos comboios. Na minha modesta opinião, isto mete qualquer arraial de santos populares a um canto. Para mim, nada e criada em Lisboa, o arraial de Santo António era o expoente máximo da festa bairrista. Até aterrar nesta terra, à beira do lago plantada, e passar a fazer parte do quarteirão da estação. Vá… do quartier de la gare, que isto em francês sempre parece mais fino.

Já percebi que a data escolhida não é o mais importante. O que interessa é unir a malta, confraternizar. À falta de um santo padroeiro para abençoar o bairro, escolhe-se o fim-de-semana anterior à festa municipal. Que coincide com a festa nacional. No dia 21 de Julho, enquanto o resto da Bélgica festeja a independência, Vielsalm festeja o dia do mirtilo e das bruxas típicas da nossa região, as Macralles. Onde o meu bairro também participa, claro está. Feitas as contas por alto, os meus vizinhos vão andar quase uma semana em festa. São uns foliões.

O programa da “Fête du Quartier de la Gare” apareceu na caixa do correio há uns dias atrás. A vizinhança apressou-se a colar os cartazes nos vidros traseiros dos carros. Se me dissessem que era o programa das festas anuais de Moimenta da Beira eu teria acreditado. As festividades abrem com um karaoke, na sexta-feira à noite. No sábado, há uma demonstração de perícia de camiões, seguida de uma demonstração de Wrestling. O serão promete ser longo com um baile animado pelo duo Roby & Caroline. No dia seguinte, às 11h da manhã já estão a servir o aperitivo para acompanhar o mui reputado almoço do bairro da estação.

Como me fiz de desentendida, voltaram a pôr-me mais um cartaz na caixa do correio... não fosse o outro ter-se extraviado por artes mágicas, nunca se sabe. Obviamente, este também acabou no caixote do lixo. Mas parece que o bairro da estação é composto por gente de fibra. Gente que não baixa os braços e vai à luta. A minha vizinha estranhou a falta de entusiasmo e, ontem à noite, foi lá a casa entregar mais um programa. Desta vez, bastante detalhado… “para abrir o apetite”, segundo me explicou sorridente. Mostrei-me mortificada. Nessas datas, vamos estar em Marrocos. É uma pena. Uiiii… o que eu queria ver os camiões do Choffray! Ou dançar ao som das músicas românticas do Roby e da Caroline! Mas, não… não dá mesmo. Quem sabe para o ano? Hummm...

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