(quando
o amor se estende a toda uma família)
Nesta
casa, somos três a ser amados desmedidamente. Somos três a ser mimados. A ser
surpreendidos. Meu amor cuida de cada um de nós de forma idêntica. Nunca há uma
demonstração de afecto que não seja extensível aos meus filhos. Por isso, este
amor é tão especial.
No
outro dia, chegou com os braços carregados de flores. Saiu para ir comprar o
jantar e voltou com três vasos de flores. Não flores mortas e embaladas. Flores
vivas, como eu gosto.
Deixou-as
em cima da mesinha da sala, sem dizer nada. Que o meu amor é um homem de gestos,
não de palavras. Fingi que não vi. Às vezes, gosto de o provocar. Mas os miúdos
viram-nas e reagiram de imediato, com a maior naturalidade do mundo. E foi esta
espontaneidade que me emocionou. Porque eles perceberam logo, não foi preciso
explicar nada.
A
roseira branca era para o Vasco, o nosso Principezinho que gosta tanto de
cuidar da sua rosa. A que ele tinha no parapeito do quarto deixou de dar
flores, parece ter entrado em hibernação. Foi o primeiro vaso a desaparecer.
A
mini-árvore das malaguetas era para o Diogo. Numa outra incarnação o meu filho
grande deve ter sido indiano, porque adora sabores picantes. No dia anterior
tinha acabado de inventar mais um molho capaz de fazer fumegar um morto. Eu
ralho, mas o meu amor acha piada a estas incursões na cozinha que me esvaziam
os frascos das especiarias. Foi o segundo vaso a desaparecer.
Sobrava
uma planta simples. Nem bonita, nem feia. Um bocadinho fora do vulgar. Nenhum
de nós sabia o nome. O Vasco quis saber o porquê daquela flor, especificamente.
Os rapazes já sabem que, por trás de cada acção do meu amor, há sempre um
motivo específico. Normalmente, complexo. Que requer amplas e aprofundadas
explicações. Os rapazes riem-se sempre, não se cansam de dizer que ele é a
pessoa mais inteligente que conhecem. Ele é a pessoa mais generosa que eu
conheço. Porque além do conhecimento, nos dá tempo. O tempo que passamos a dedicar-nos
aos outros será sempre o melhor presente.
O
nome da minha flor não interessa. Não sabemos. Mas a minha flor é magenta. Uma
cor que não existe no espectro. Raríssima na natureza. Uma espécie de ilusão de óptica.
Uma cor que para existir precisa do olhar humano, subjectivo por definição. “Um olhar
especial, como o teu”, disse ele.
Quando, lá para trás, se fechou uma porta...apareceram 3 lindos vasos a apanhar luz da janela! Um abraço...
ResponderEliminarOhhh, coitadas das minhas flores... luz é coisa que já não abunda por aqui! Já entrámos na estação das trevas. :) Beijinho, Mariana.
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