(onde
o processo de congelamento ultrapassa as expectativas
e as recompensas são
surpreendentemente sofridas)
Quando
estava a chegar ao trabalho, a Dadá ficou sem líquido limpa-vidros. Tendo em
conta que, há pouco tempo, desmantelaram um atentado terrorista umas ruas
acima, evito grandes passeatas em Verviers. Decidi improvisar. Até porque era
impossível voltar para casa sem limpa-vidros. As estradas belgas estão cobertas
por uma mistela nojenta de neve e sal. Quando passa um camião, é um ver se te
avias. Antes de iniciar o trajecto de regresso, despejei uma garrafa de 250 ml de
água no depósito. A ideia era só mesmo chegar a casa em segurança. Normalmente
compro bidões de 5 litros de líquido limpa-vidros e ainda havia um resto na
garagem. No Inverno, tem de ser anti-congelante. Bom, nesta terra, tudo tem de
ter anti-congelante adicionado no inverno: limpa-vidros, líquido de
refrigeração do motor, gás da caldeira, etc. Fiz-me ao caminho. Uns minutos
mais tarde, apanhei o primeiro camião numa rotunda. Pressionei a manete do limpa-vidros.
Nada. Voltei a pressionar. Nada. O líquido já tinha congelado. E assim se manteve
airosamente, mesmo quando o carro já estava quente, meia hora depois. É para
terem noção do frio que faz. Gela tudo em minutos.
As
temperaturas rodam os -8ºC. À noite, diz que já chegou aos -20ºC. Está um sol radioso. E
um frio literalmente siberiano. Na meteorologia falam de “temperatura real” e “temperatura
sentida”. Esta semana ainda não consegui sentir nada. Também já devo
ter congelado. Os miúdos nunca mais se esqueceram da artilharia pesada em casa.
Acho que o frio – real ou sentido, sei lá! – faz desaparecer a vergonha. O
Vasco tem ido todos os dias para a escola com a combinação de ski e botas de neve.
Já tive de comprar outro par, porque chegam sempre ensopadas. Hoje levou o
trenó. Parece que é uma recompensa por se terem portado bem nos últimos dias,
na sala de aula. Vão andar de trenó à tarde. Mas, primeiro, têm de andar uns 20
minutos a pé até ao cimo do monte. Com o trambolho atrás. Não quero parecer
maldizente, mas já vi castigos severos mais bonzinhos. Raio que os parta, pá!
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