(onde duvidamos da imagem
que o espelho mais honesto do nosso mundo reflecte)
Ontem,
o meu filho Diogo chegou da escola e encontrou-me – para não variar – à frente
do computador. A traduzir, pois claro. Deu-me um beijo. Um abraço demasiado
apertado. E disse-me que lhe estava a oferecer uma excelente experiência de
“sociabilização”. Achei aquilo um bocado estranho. A verdade é que estou cada
vez mais anti-social. Para usar uma expressão da tribo, pascalizei-me (verbo pronominal. Adquirir os hábitos do Pascal).
Calculei que o filho crescido tivesse acabado de sair da aula de Ciências Sociais, a preferida. Hum… a preferida oficialmente. Acho que anda lado a lado com as Ciências, tout court. Mas não lhe fica bem dizer
isto em voz alta, porque fui eu que o obriguei a escolher 6 horas por semana de Ciências.
Após demoradas e extenuantes discussões. Após um despótico "É como eu digo e acabou-se". Antes a morte a admitir que a mãe
tem razão, quando se tem 15 anos.
Perguntei-lhe
o que queria dizer com aquilo… tendo em conta que pouco ou nada ando a
contribuir, nos últimos tempos, para a sua extensíssima
socialização. Lá me explicou que grande parte dos nossos hábitos sociais advém
no ambiente. Da educação que recebemos. Do exemplo que temos em casa. Filhos de
pessoas com diplomas universitários têm mais 50% de hipóteses de tirarem cursos
superiores. E o exemplo que ele tem é este: uma mãe que se mata a trabalhar. Foi
exactamente isto que o Diogo me disse. “Uma mãe que se mata a trabalhar”. Para o
filho crescido, é um bom exemplo. O melhor exemplo que podia receber. Não sei
se será. Tenho algumas dúvidas. Mas, depois, lembrei-me do que ele me escreveu,
há uns dias: “Obrigada por fazeres sempre tudo por nós”. Talvez se ele
relacionar ambas as afirmações, as coisas façam mais sentido. Espero que sim.
Porque não sou uma pessoa que promova o culto do trabalho. Não sou workaholic. Certamente, não
gostaria de ser recordada como tal. Cultivo os meus. Apenas isso.
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